Natália Portinari e Julia Lindner
O Globo
Ao anunciar os novos comandantes das Forças Armadas, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, afirmou nesta quarta-feira que os militares estão comprometidos com os poderes constitucionais e as liberdades democráticas, ressaltando que todo o governo federal está mobilizado para o enfrentamento da Covid-19. O general Paulo Sérgio Nogueira vai assumir o Exército; o almirante de esquadra Almir Garnier Santos chefiará a Marinha; e o tenente-brigadeiro Baptista Júnior foi escolhido para a Aeronáutica.
– A Marinha do Brasil, o Exército brasileiro e a Força Aérea brasileira se mantém fiéis às suas missões constitucionais de defender a pátria, garantir os poderes constitucionais e as liberdades democráticas. Neste dia histórico, reforço que o maior patrimônio de uma nação é a garantia da democracia e a liberdade do seu povo – declarou o ministro, enaltecendo a data que marca o aniversário do golpe militar.
DESAFIO MAIOR – O novo ministro disse, ainda, que o país tem como desafio o combate à Covid-19 e que “todo o governo federal e os poderes da República têm mobilizado os seus esforços e energias para o enfrentamento dos impactos da epidemia”. Segundo ele, as Forças Armadas são “fatores de integração nacional” que contribuem para esta missão.
Após Braga Netto conversar com os cotados ao comando das Forças Armadas ao longo do dia, ele os levou para uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto em busca do aval do mandatário do país. Logo depois, o ministro convocou a imprensa para apresentar os nomes publicamente e fez um breve pronunciamento. Todos os escolhidos respeitam o critério de antiguidade.
A troca no comando do Exército, da Marinha e da Aeronáutica vem após uma crise que levou os três comandantes anteriores a deixarem os cargos. De acordo com relatos, eles foram pressionados por Bolsonaro a demonstrarem maior apoio ao governo federal.
PARABÉNS ANTECIPADOS – Nas redes sociais, antes do anúncio oficial, o general José Luiz Freitas, comandante de Operações Terrestres do Exército, parabenizou Paulo Sérgio Nogueira pela indicação.
“Escolhido o novo Comandante do Exército, General Paulo Sérgio, excepcional figura humana e profissional exemplar. Como não poderia deixar de ser, continuaremos unidos e coesos, trabalhando incansavelmente pelo Exército de Caxias e pelo Brasil!”, escreveu Freitas nas redes sociais.
Chefe do Departamento-Geral do Pessoal do Exército, o general Paulo Sérgio disse no último final de semana, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, que o Brasil deve se preparar para uma possível terceira onda da pandemia da Covid-19, considerando a situação da Europa, o que teria desagradado Bolsonaro.
Segundo um ministro palaciano ouvido pelo GLOBO, a escolha de Paulo Sérgio serve para distensionar e diminuir a temperatura da crise com as Forças Armadas.
CONVOCAÇÃO – Também nesta quarta-feira, a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara aprovou a convocação do novo ministro da Defesa. Como o pedido não foi transformado em convite, Braga Netto será obrigado a comparecer à audiência, que ainda não tem data prevista.
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, enalteceu o trabalho dos comandantes que deixaram os postos e desejou sucesso aos sucessores.
“Meu respeito e admiração ao Gen. Fernando, Alm. Ilques, Gen. Leal Pujol e Brig. Bermudez. A condução dos assuntos de defesa e das FA foi exemplar, aliando lealdade ao Brasil e rapidez nos chamados da população. Desejo sucesso ao novo ministro da Defesa e aos novos Comandantes”, escreveu Mourão.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A comemoração do 31 de Março acabou se transformando num velório. O neoministro Braga Netto e seu mentor Jair Bolsonaro não tiveram escolha, porque os Altos Comandos das três Armas fecharam solidariedade total ao ex-ministro e aos ex-comandantes militares e não vão permitir alinhamento militar ao governo. Em tradução simultânea, Braga e Bolsonaro trocaram seis por meia dúzia. Basta ler a entrevista do general Paulo Sérgio deu ao Correio Braziliense no domingo e que causou a crise, porque Bolsonaro ficou furioso e resolveu demitir o ministro da Defesa e os comandantes militares na segunda-feira. Ou seja, Braga e Bolsonaro criaram uma crise à toa e estão absolutamente enfraquecidos (C.N.)