sábado, março 27, 2021

Bolsonaro só espera uma “janela de oportunidade” para despachar Araújo do Itamaraty, avaliam interlocutores

Publicado em 27 de março de 2021 por Tribuna da Internet

Charge do Duke (domtotal.com)

Gerson Camarotti
G1

Entre interlocutores de confiança do presidente Jair Bolsonaro, o consenso é que ficou insustentável a permanência do chanceler Ernesto Araújo no primeiro escalão do governo. E que, agora, Bolsonaro só espera uma “janela de oportunidade” para realizar a substituição no Itamaraty.

A percepção ficou clara depois do movimento fracassado de Ernesto Araújo de tentar se manter no cargo. Depois de admoestado publicamente pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Araújo tentou reverter a situação. Foi ao encontro de Lira na residência oficial para dar explicações. Mas a situação não se alterou.

JOGADA CASADA – Na sequência, a cabeça de Ernesto Araújo foi pedida pelo presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o que foi interpretado no Palácio do Planalto como uma jogada casada vinda do Congresso Nacional.

“O presidente Bolsonaro já entendeu que a situação ficou insustentável. Só não dá para tirar imediatamente porque vai ficar parecendo que quem tirou o Ernesto Araújo foi o Arthur Lira”, explicou ao blog um interlocutor do presidente. Isso já tinha acontecido com os ex-ministros Abraham Weintraub e Eduardo Pazuello, que ganharam sobrevida no auge dos ataques.

A lógica no Planalto é que o prolongamento da permanência de Ernesto Araújo vai desgastar ainda mais o próprio Bolsonaro, já que ele passou a ser responsabilizado por ter inviabilizado relações diplomáticas com a China, Estados Unidos e até a Índia no momento em que o Brasil mais precisa da ajuda desses países para conseguir vacinas e insumos para enfrentar a pandemia de Covid-19.

POLÍTICA TEMERÁRIA – Ao mesmo tempo, a política externa atrelada à liderança do ex-presidente americano Donald Trump foi considerada temerária por toda a diplomacia profissional brasileira. “Com a derrota de Trump, Ernesto Araújo perdeu o sentido da sua existência. Ele passou a ser um estorvo para Bolsonaro”, avalia um embaixador da ativa.

Neste momento, Ernesto Araújo está completamente isolado dentro e fora do governo: perdeu o apoio da classe política, dos militares e do setor exportador brasileiro, principalmente do agronegócio.

Araújo tem apenas o apoio do filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e do assessor especial Filipe Martins, que deve ser afastado do Planalto depois que, durante uma sessão do Senado na quarta-feira (24), fez um gesto identificado como símbolo de supremacistas brancos.