Publicado em 25 de fevereiro de 2021 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
Muito antes de Jesus Cristo, os principais filósofos da Humanidade questionavam a existência e estudavam o conceito de que tudo muda, o tempo todo, nada é permanente. Essas teorias se consolidaram simultaneamente 500 anos a.C., através da Tese da Impermanência, defendida no Oriente pelo líder nepalês Sidarta Gautama, o Buda, e da Tese do Devir, do pensador grego Heráclito de Éfeso.
Agora no terceiro milênio, tanto tempo depois, essas teorias filosóficas se mostram cada vez mais corretas e atuais. A cada dia, quando acordamos, precisamos estar atentos para as mudanças que podem ocorrer na nossa trajetória individual e também no desenrolar coletivo.
TUDO POR DINHEIRO – Quando usou a caneta e o cofre para conquistar, por 30 dinheiros, uma falsa base aliada no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro pensava que o pais permanecia na mesma conjuntura de 2019, quando podia contar com o apoio carreado pelos ministros Dias Toffoli, que então presidia o Supremo, e Gilmar Mendes, com os quais tinha obtido grandes conquistas, especialmente a proibição de criminoso cumprir pena após condenação em segunda instância, ao contrário do que ocorre nos outros 192 países-membros da ONU.
Para Bolsonaro, na época não importava se Lula da Silva e José Dirceu iam ser soltos – o fundamental era blindar o filho Flávio e sepultar os R$ 89 mil reais que o assessor familiar Fabricio Queiroz depositara em nome da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Vida que segue, diria João Saldanha, e Bolsonaro não percebe que a conjuntura agora lhe é desfavorável no Supremo, apesar de ter nomeado um áulico para a vaga de Celso de Mello.
TOFFOLI MENTIU – O fato concreto é que em novembro de 2019, para soltar Lula e Dirceu, o então presidente Dias Toffoli teve de mentir, ao prometer a dois ministros que a prisão passaria a valer para condenados em terceira instância (STJ), mas no Dia D e na Hora H, como último a votar, mudou a regra do jogo e encerrou abruptamente a sessão.
O golpe deu certo, mas despertou a Teoria da Impermanência, de Buda, ou a Teoria do Devir, de Heráclito, isso nem interessa, são a mesma coisa. E agora Bolsonaro não tem mais maioria no Supremo. Na verdade, controla apenas um voto, de Nunes Marques, aquele ministro fraudador de currículos.
Os velhos amigos Dias Tofolli e Gilmar Mendes podem até eventualmente apoiar o presidente, mas não existe mais o comprometimento prévio. O mesmo acontece em relação a Marco Aurélio Mello, cujo voto é sempre imprevisível.
BOLSONARO EM MINORIA – Em tradução simultânea, Bolsonaro, na melhor das hipóteses, só consegue quatro votos no Supremo. O ex-parceiro Ricardo Lewandowski, depois de libertar Lula, Dirceu e os outros, agora quer distância do governo, que realmente não merece o menor apoio.
Rosa Weber, enganada por Toffoli na votação da segunda instância, aguarda para saborear o doce gosto da vingança. E os outros cinco são os de sempre, que formam a bancada contra a corrupção – Luiz Fux, Edson Fachin, Cármen Lúcia, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.
Assim, as questões do interesse de Bolsonaro não terão no Supremo a mesma complacência que estão conseguindo no STJ.
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P.S. – Vai ser eletrizante assistir a essa reviravolta na política brasileira, confirmando a teoria de que tudo muda e o importante é o devir. Será uma nova versão do Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, briga boa de se ver, diria Glauber Rocha. (C.N.)