Danielle Brant
Folha
Um dia após Jair Bolsonaro (sem partido) admitir interferência na eleição da Câmara, o líder do centrão e candidato do governo na disputa, deputado Arthur Lira (PP-AL), contradisse o presidente e afirmou que ninguém influi na presidência da Casa.
Lira concedeu rápida entrevista antes de se reunir com a bancada de seu partido na tarde desta quinta-feira, dia 28, no gabinete da presidência do PP no Senado. No dia anterior, Bolsonaro se reuniu com o líder do centrão e com parte da bancada do PSL e afirmou que, “se Deus quiser”, vai interferir na presidência da Casa.
“NINGUÉM INFLUI” – Antes de conversar com deputados do PP, Lira afirmou não ter ouvido ninguém dizer que vai influenciar na presidência da Câmara. “Influir na presidência da Câmara é diferente do que ele pode ter dito. Porque na presidência da Câmara ninguém influi”, disse o deputado.
O líder do centrão afirmou ainda que cada lado trabalha com sua versão de intervenção. “Eu estou trabalhando com muita humildade para conseguir os votos dos deputados e não reclamo de interferência de governadores, não reclamo de interferência da Câmara no processo de escolha das sessões, dos horários, dos blocos”, disse Lira.
“Não estou vendo nenhum deputado publicamente assumir que está tendo interferência”, continuou. “Eu volto a dizer, se vocês olharem o Diário Oficial do Estado de São Paulo, o Diário Oficial da Câmara, vocês vão ver interferência.”
HARMONIA – O deputado do PP afirmou ainda que não é o momento de “baixar o nível da campanha” e que “ninguém muda mais voto de ninguém numa altura dessa”. Se eleito, afirmou que será independente, mas harmônico. “Não vou procurar briga, nem insuflar nenhum tipo de discussão que não sejam as propostas desse período de eleição.”
Na quarta-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), havia criticado a interferência do Planalto na disputa e disse que haveria sequelas para os dois lados. Ele apoia a candidatura do deputado Baleia Rossi (MDB-SP).
“É um alerta aos deputados e deputadas que a intenção do presidente [Bolsonaro] é transformar o Parlamento num anexo do Palácio do Planalto, o que enfraquece o mandato de cada deputado e cada deputada e, principalmente, o protagonismo da Câmara dos Deputados nos debates com a sociedade.”
RESISTÊNCIA – Em rodada de entrevistas na quarta-feira, Lira já tinha demonstrado resistência a criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre a condução do governo Bolsonaro da pandemia de Covid-19. Na avaliação do deputado, a crise sanitária “não pode ser motivo de embates políticos para nós trazermos para discussão traumas de interrupções bruscas democráticas”.
Na manhã desta quinta, Baleia acusou o líder do centrão de plantar notícias mentirosas e de adotar salto alto na disputa. “Quem está ganhando a eleição não precisa mentir. E os nossos adversários estão mentindo muito, e isso é sinal de desespero”, afirmou.
O presidente do MDB disse que está conversando com deputados e descartou qualquer possibilidade de o DEM migrar para o bloco de Lira —aliados do líder do centrão calculam ter dois terços de apoio no partido de Maia.