sexta-feira, janeiro 29, 2021

Joe Biden ri após ser indagado sobre quando pretende ter uma conversa com Bolsonaro


O presidente dos EUA, Joe Biden, após assinar ordem executiva relacionada ao sistema de saúde

Para o presidente Joe Biden, essa foi a maior “Piada do Ano”

Marina Dias
Folha

O presidente Joe Biden riu nesta quinta-feira (28) após ser questionado sobre quando iria conversar com Jair Bolsonaro. Oito dias depois de assumir a Casa Branca, o democrata já falou diretamente com ao menos sete chefes de Estado ou de governo, mas ainda não há planos sobre a vez do brasileiro.

Dentro do Salão Oval, Biden foi questionado pela GloboNews se havia data prevista para uma conversa direta com Bolsonaro, mas preferiu sorrir a responder.

CARTA PROTOCOLAR – Em 20 de janeiro, dia da posse do democrata, o governo brasileiro trocou o habitual telefonema para cumprimentar o novo presidente dos EUA por uma longa carta, enviada à Casa Branca para tentar abrir canais de diálogo com Biden.

Bolsonaro era um apoiador público de Donald Trump, ecoou a tese sem provas do republicano de que as eleições americanas haviam sido fraudadas e, por mais de uma vez, dirigiu-se de forma agressiva a Biden. Uma delas, quando o democrata sugeriu impor sanções pela destruição da Amazônia e ofereceu fundos para conter a devastação na floresta, e ouviu do brasileiro que não aceitava subornos.

Diante do cenário belicoso, a avaliação de diplomatas e integrantes do setor militar do Planalto era que um documento escrito seria a melhor —ou única— maneira de tentar baixar a temperatura e sinalizar aos EUA e aos demais atores internacionais que o Brasil tem disposição em continuar sua relação com Washington mesmo sem Trump.

NÃO FALA INGLÊS – O telefonema, naquela circunstância, não cumpriria a missão, já que o conteúdo integral das ligações é quase sempre privado. Além disso, Bolsonaro não fala inglês e não conseguiria entabular uma conversa satisfatória com o americano —tradutores, geralmente, tornam esses momentos ainda mais frios e protocolares.

Agora, a expectativa do governo brasileiro é de que a conversa entre Biden e Bolsonaro aconteça somente quando houver uma medida específica para ser tratada pelos líderes —ou uma emergência.

Desde que assumiu a Casa Branca, Biden seguiu a tradição de falar com os chefes dos países vizinhos, Justin Trudeau (Canadá) e Andrés Manuel López Obrador (México), e com líderes de nações com relações tidas como estratégicas ou históricas com os EUA, como Boris Johnson (Reino Unido), Emmanuel Macron (França), Angela Merkel (Alemanha), Vladmir Putin (Rússia) e Yoshihide Suga (Japão).

SOBRE O CLIMA – Em entrevista coletiva nesta quinta, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o Brasil terá papel-chave nas negociações sobre o clima, apesar de já ter dado mostras de que o país —ou o telefonema com Bolsonaro— não será o foco de Biden nesse primeiro momento.

“Esta [agenda do meio ambiente] é uma grande prioridade para o presidente Biden e é por isso que ele pediu a seu bom amigo, o ex-secretário [John] Kerry, para liderar nosso esforço internacional para o clima, e certamente o Brasil será um parceiro-chave nisso”, afirmou Psaki.

 O embaixador do Brasil nos EUA, Nestor Forster, diz que não há diplomacia nova diante das prioridades do novo governo e que é preciso “continuar o trabalho que já estava sendo feito, com interlocução na Casa Branca e no Congresso, além do setor privado e sociedade americana”.

VALORES COMPARTILHADOS – “A relação do governo brasileiro com o governo americano não recomeça do zero [com a saída de Trump], mas com um patrimônio de quase dois séculos de uma agenda de cooperação e colaboração”, afirma o embaixador. “Essa agenda é baseada nos valores compartidos pelos dois países, a ideia não é só governo, mas respeito à democracia, ao Estado de Direito, aos direitos humanos e à liberdade econômica.”

Há quem diga que John Kerry, o czar do clima de Biden, tem perfil diplomático e não deve entrar em choque com o governo brasileiro de saída, mas os mais céticos afirmam que ele precisará mostrar serviço e, caso não consiga grandes avanços internamente, mirar um vilão externo pode ser um caminho inteligente.​

Biden assinou nesta quarta-feira (27) um pacote de estimados US$ 2 trilhões para enfrentar a crise climática. As medidas, que ainda precisam de aval do polarizado Congresso dos EUA, atingem fortemente a indústria de gás e petróleo, incentivam a economia sustentável e citam o desenvolvimento de um plano para a proteção da floresta Amazônia.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Tudo indicava que o Brasil está fadado se tornar o grande líder da questão ambiental. Mas a política de Jair Bolsonaro e Ernesto Araújo colocou o Brasil do outro lado do ringue. (C.N.)