Carlos Newton
Excelente matéria de Nélson de Sá, na Folha desta quarta-feira, mostrou a posição firme da chanceler Angela Merkel, que não aceita os apelos do neopresidente Joe Biden para levar a Alemanha a aderir à guerra fria ocidental contra a China. Também não aceita as pressões para boicotar a Russia, que está concluindo o novo gasoduto para abastecer a Europa.
É curioso lembrar que foram os países ocidentais, incluindo a Alemanha, que possibilitaram o veloz desenvolvimento da China, ao reinstalarem lá as fábricas altamente poluidoras que foram proibidas de funcionar em seus países de origem.
SEM CONCORRENTES – Com salários irrisórios e sem leis trabalhistas, os preços desses produtos chineses só tinham concorrentes em outros países asiáticos que também receberam fábricas poluentes, mas não têm a organização e a capacidade de exportação da China.
Agora, o gigante oriental está incomodando demais o mundo, ao construir a chamada Nova Rota da Seda, ligando a China à Europa por terra, mar e ar.
Nos últimos quatro anos Donald Trump tentou ressuscitar a antiga Guerra Fria, mas nenhum político de verdade levava a sério o patético governante americano. Agora a missão é de Joe Biden, porque os EUA mudam o presidente, porém a política externa é sempre a mesma.
NOVA ESTRATÉGIA – O fato concreto é que está difícil levar adiante essa nova Guerra Fria sem apoio da Alemanha e do Japão, e com a China fechada com a Rússia. Em tradução simultânea, Biden e seus aliados da OTAN terão de esperar e decidir uma nova estratégia.
De toda forma, fica difícil essa redefinição, porque a Nova Rota da Seda vai trazer desenvolvimento para os países ao longo do percurso, e o projeto chinês é extraordinário, com rodovias, ferrovias e navegação de cabotagem.
A única arma dos países ocidentais é o protecionismo, mas se trata de uma faca de dois gumes, vira uma guerra comercial. Portanto, a curto prazo os países da OTAN estão manietados.
NOVA PERESTROIKA? – A longo prazo, porém, sempre há uma esperança. As leis trabalhistas começaram a avançar na China, que já tem até Previdência Social. Existe também um clamor pelos avanços democráticos, mas isso o Partido Comunista chinês jamais permitirá. Se o gigante sofrer uma perestroika (reforma) e uma glasnot (abertura), vai se dividir numa série de países, exatamente como aconteceu à União Soviética.
Mas isso é apenas sonho. Existe a certeza de que o Comitê Central não permitirá que essas reformas ocorram, e ninguém até quando a China vai continuar sendo o império do partido único.