quinta-feira, janeiro 28, 2021

Aliados dizem que Rodrigo Maia ameaça abrir processo de impeachment de Bolsonaro, mas ele nega

Publicado em 28 de janeiro de 2021 por Tribuna da Internet

Charge do Cazo (Arquivo do Google)

Julia Chaib e Ranier Bragon
Folha

Aliados de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, afirmam que o parlamentar tem ameaçado dar aval à sequência de um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro (sem partido) até o final do seu mandato, que se encerra na próxima segunda-feira, dia 1°.

A Folha ouviu esse relato de três políticos próximos a Maia, além de outro parlamentar que afirma ter ouvido essa informação do coordenador político do governo, o general Luiz Eduardo Ramos. Como revelou a Folha, o presidente da Câmara ligou para Ramos na noite de terça-feira, dia 26, e, em tom duro, reclamou da interferência de Bolsonaro na disputa pela presidência da Câmara, cuja eleição está marcada para segunda-feira.

TRAMITAÇÃO DO PEDIDO – Pela legislação, cabe ao presidente da Câmara decidir, de forma monocrática, se há elementos jurídicos para dar sequência à tramitação do pedido. O impeachment só é autorizado a ser aberto com aval de pelo menos dois terços dos deputados (342 de 513). Após a abertura, pelo Senado, o presidente é afastado do cargo.

Maia negou à Folha ter tratado de impeachment na conversa com Ramos, embora tenha reconhecido que se exaltou. Procurado, o ministro não se manifestou sobre o teor da conversa. Apesar das sinalizações que dizem ter ouvido de Maia, esses aliados afirmam não acreditar que o deputado dê, de fato, aval para início de um processo de impeachment.

REGISTRO OFICIAL – No comando da Câmara por três mandatos consecutivos, Maia apoia a eleição de Baleia Rossi (MDB-SP) para a sua vaga. O favorito até agora, porém, é Arthur Lira (PP-AL), candidato chancelado por Bolsonaro. Para além da afirmação de aliados, há também um registro oficial de Maia ameaçando deflagrar o impeachment contra Bolsonaro.

As notas taquigráficas da reunião da Mesa Diretora da Câmara, no dia 18 de janeiro, trazem as seguintes declarações do deputado, que havia se irritado com a fala de uma aliada de Lira, que o acusou de adotar uma atitude ditatorial na Casa. Ele respondeu lembrando a defesa que Bolsonaro faz da ditadura e disse: “E, se o presidente continuar apoiando vocês nesse clima pesado, ele vai levar um impeachment pela frente, hoje ou amanhã”.

Durante boa parte de sua gestão, o deputado foi cobrado por ter se sentado em cima dos quase 60 pedidos de impeachment que chegaram para sua análise.Segundo parlamentares, a possibilidade cada vez mais forte de o DEM sair do bloco de apoio a Baleia e ir para o bloco de Lira tem levado Maia a se irritar com aliados e com o governo.

INSATISFAÇÃO – Na segunda-feira, dia 25, ele chegou a manifestar insatisfação com o presidente do seu partido, ACM Neto (BA), e disse em reunião com parlamentares que o DEM corre o risco de virar o “partido da boquinha”.

A ligação para o general Ramos foi feita logo após Maia ter ficado sabendo que havia perdido mais um voto que iria para Baleia —o do deputado Fernando Coelho Filho (DEM-PE), aliado de primeira hora e desde sempre contado como voto certo no emedebista. O DEM está rachado e pode não ter número suficiente de assinaturas para entrar formalmente no bloco de Baleia.

FAVORITISMO – Na reta final da disputa pelo comando da Casa, até Maia já admite a aliados que Lira é o favorito. Por isso, trabalha para ao menos evitar o constrangimento de ver seu próprio partido apoiando formalmente o adversário, além de tentar conseguir ter o maior bloco partidário da disputa. A eleição é secreta.

Isso pode, pelas regras da Câmara, garantir ao seu bloco a indicação dos principais candidatos a outros postos importantes da Mesa Diretora. Dessa forma, o grupo que ficaria em torno de Baleia poderia, em tese, escolher os nomes para a primeira-vice-presidência e para a primeira-secretaria.

Nos últimos dias, Maia passou a defender que o PT, o maior partido do grupo, com 52 deputados, ocupe a vice-presidência. Isso porque, no cenário em que Lira ganhe, ao menos haveria um nome da oposição para contrabalanceá-lo na direção da Casa.