Pedro do Coutto
Reportagem de Manoel Ventura, O Globo de sábado, revela que a fila dos que desejam incluir-se no programa Bolsa Família está reunindo praticamente um milhão de pessoas, as quais vão se juntar às 14 milhões e 470 mil famílias que já se encontram no programa. É um desafio para o governo sobretudo porque só podem se inscrever as unidades familiares cujos integrantes possuem uma renda per capita de 89 até 178 reais.
Partindo-se do princípio de que a média é de 4 pessoas por família chegamos assim a uma projeção de menos do que um salário mínimo para cada grupo.
É INACEITÁVEL – Este ano a despesa do governo com o Bolsa Família está sendo de 32 bilhões de reais. Se 1 milhão de outras famílias vierem a ser incluídas a despesa prevista subirá para 34,8 bilhões de reais em 2021.
Está portanto projetado o mapa da fome no Brasil. É muito alto e inaceitável esse total de pessoas excluídas, representando praticamente 25% da população de nosso país. Tal contingente humano pode ser comparado às populações da Itália e da França.
Trata-se de um mapa que me faz lembrar a fabulosa obra do sociólogo Josué de Castro, que na década de 50 lançou seu livro Geografia da Fome, um marco importante do contexto social brasileiro e que se tornou um clássico internacional, estudado nos mais diferentes países.
A FOME AUMENTA – Se observarmos o crescimento do número de famílias atendidas, tal prática vai nos conduzir à identificação de que a fome, ao invés de ser reduzida através do tempo, pelo contrário, a cada ano torna-se maior do que aquela registrada no exercício anterior. Sem dúvida, é uma consequência do desemprego que o ministro Paulo Guedes não leva em consideração, ao observar o panorama sem a lente da realidade.
Está evidente que o crescimento da pressão para que famílias sejam inscritas é consequência também de os salários perderem , como acontece, para a inflação. Este é um fato. O outro é a dificuldade de se verificar quem tem direito e quem não tem a participar do programa. Isso porque a grande parte dos habitantes do mapa da fome não tem vínculo empregatício e, dessa forma, difícil conferir abrangência na escala de 89 reais a 178 reais por mês per capita.
AUXÍLIO EMERGENCIAL – De outro lado, a repórter Daniela Amorim, O Estado de São Paulo de ontem, destaca que a redução do auxílio emergencial de 600 para 300 reais por mês vai fazer com que mais pessoas caiam na pobreza e na miséria.
A meu ver, tal hipótese é bem realista vai agravar o problema a partir de Janeiro de 2021, quando o auxílio emergencial, segundo anunciou Paulo Guedes, será extinto.
Como se não bastasse, reportagem de Amanda Puppo, O Estado de Sã Paulo, informa que o governo Bolsonaro está estudando repassar a gestão do aluguel social para a iniciativa privada.