Marcelo Bruzzi
G1
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pediu à Justiça a quebra do sigilo dos dados de três telefones celulares, de um tablet e de um computador apreendidos no apartamento do prefeito afastado do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. Na justificativa, o MPRJ afirma que Crivella “tem atuado de forma a obstruir, sorrateiramente, o acesso a provas, inclusive por meio de expedientes maliciosos”.
Para o MPRJ, há “indícios suficientes indicando que Crivella se valeu de informações privilegiadas, obtidas de forma criminosa” da segunda fase da Operação Hades, em 10 de setembro, quando o então prefeito foi alvo de busca e apreensão. A primeira etapa foi deflagrada em março. Os promotores ressaltam que, naquela manhã de setembro, um porteiro revelou que Crivella havia acabado de chegar em casa, “tendo passado a noite em endereço ainda não revelado”.
IMAGENS – Ao pedido, o MPRJ anexou imagens das câmeras da portaria do condomínio de Crivella, “comprovando que ele havia regressado à sua casa poucos minutos antes da chegada das equipes policiais”. “Para surpresa de todos, em cerca de apenas 5 ou 10 minutos, dois advogados chegaram, o que indica que ambos já estavam ‘a postos’ nas imediações da casa de seu cliente e prontos para atendê-lo, circunstância deveras inusitada, dado o horário em que foram acionados”, escreveram os promotores.
No pedido, o MPRJ narra que, em 10 de setembro, a equipe solicitou que Crivella entregasse seu telefone celular. O prefeito, então, “ofertou um iPhone 7 que estava desligado e repousava sobre a sua mesa de cabeceira”, mas se negou a fornecer a senha de desbloqueio do aparelho.
A análise do conteúdo, segundo o MPRJ, “evidencia que tal celular não era o seu aparelho de uso pessoal”. “Crivella entregou, deliberadamente, um aparelho usado por terceiros como se fosse o seu próprio, com o inequívoco intuito de perturbar e obstruir o bom andamento da investigação”, disse.
TELEFONE FUNCIONAL – A análise dos dados mostra que tratava-se de um telefone funcional usado por algum assessor, já que as ligações feitas por ele aconteceram predominantemente na região da Cidade Nova, onde fica a sede da Prefeitura do Rio.
De acordo com os promotores, existem evidências de que um dos telefones celulares, que estava em posse da primeira-dama, Sylvia Jane, teria sido dado ao prefeito afastado por Rafael Alves, outro dos investigados. Os aparelhos cujo sigilo o MPRJ quer quebrar foram apreendidos no último dia 23 de dezembro, antes de Crivella seguir para prisão domiciliar. Ele foi preso no dia 22 em uma ação conjunta entre a Polícia Civil e o MP-RJ.
A investigação aponta a existência de um “QG da Propina” na Prefeitura do Rio. No esquema, de acordo com as apurações do MP, empresários pagavam para ter acesso a contratos e para receber valores que eram devidos pela gestão municipal.