terça-feira, dezembro 22, 2020

Mesmo tentando blindar Bolsonaro, Planalto reconhece inevitável desgaste com prisão de Crivella

 


Bolsonaro seguiu com o baile e preferiu sair para pescar

Daniel Carvalho
Folha

Diante da prisão do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), nesta terça-feira, dia 22, o Palácio do Planalto tem procurado blindar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas reconhece que é difícil evitar o desgaste com a narrativa de mais uma derrota do chefe do Executivo federal.

Além de ter apoiado a candidatura derrotada de reeleição de Crivella —a internet já recuperou até vídeo dos dois dançando durante a campanha—, dois dos três filhos políticos do presidente migraram para o Republicanos: o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (RJ).

“QUESTÃO POLICIAL” – Abordado por jornalistas, o vice-presidente general Hamilton Mourão (PRTB) minimizou o impacto para o governo, dizendo que se trata de uma “questão policial” e que “segue o baile aí”. “O governo não tem impacto nenhum, pô. Não tem nada a ver com a gente. Sem impacto, zero impacto”, disse Mourão nesta manhã.

Ao ser lembrado de que Bolsonaro apoiou a tentativa de reeleição de Crivella, o vice-presidente insistiu em minimizar a operação desta terça-feira. “A gente apoia tanta candidatura aí, pô, não tem nada a ver.” Crivella foi preso preventivamente nesta terça, em operação da Polícia Civil e do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro). Ele é apontado como chefe do suposto grupo criminoso que teria instituído um esquema de cobrança de propina na prefeitura.

Nos bastidores, auxiliares do presidente admitem que o desgaste é inevitável. No início do ano, Bolsonaro foi aconselhado a não apoiar candidaturas justamente para evitar desgastes com eventuais derrotas ou problemas judiciais que seus aliados poderiam enfrentar. Na reta final, porém, ele escolheu alguns nomes para pedir votos.No caso de Crivella, Bolsonaro acabou ficando com derrotas nas duas frentes, já que o prefeito perdeu para Eduardo Paes (DEM), eleito em outubro, e agora foi preso.

REJEIÇÃO – Com a ajuda de Bolsonaro, Crivella tentou se cacifar na campanha como o principal candidato do campo conservador, mas o alto índice de rejeição que acumulava impulsionou sua derrota para Eduardo Paes, que teve 64% dos votos válidos no segundo turno.Uma pessoa próxima à família disse à Folha, sob reserva, que acredita que a prisão de Crivella pode antecipar a migração de Bolsonaro para um partido, movimento que ele pretendia fazer apenas em março.

O entendimento deste auxiliar é que o presidente pode querer levar ao menos o filho Flávio para esta outra legenda na tentativa de se afastar um pouco mais da sigla de Crivella. Flávio já enfrenta dificuldades na Justiça por causa da investigação que apura esquema de “rachadinha” no gabinete do hoje senador quando ele era deputado estadual no Rio de Janeiro.

Crivella se tornou réu depois que a desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita, do Tribunal de Justiça do Rio, aceitou denúncia do Ministério Público contra ele. O órgão acusa Crivella e outras 25 pessoas de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva.

PESCARIA – Bolsonaro está em Santa Catarina, sem agenda oficial, e ainda não se manifestou sobre a prisão do aliado.Nesta manhã, horas depois da prisão de Crivella, o ministro Fábio Faria (Comunicações) publicou um vídeo em que aparece num barco com Bolsonaro, com o secretário Jorge Seif (Pesca) e o apresentador Ratinho. Eles foram pescar.

O partido de Crivella, de Flávio e de Carlos Bolsonaro divulgou nesta terça-feira uma nota na qual saiu em defesa do prefeito do Rio de Janeiro. “O partido acredita na idoneidade de Crivella e vê com grande preocupação a judicialização política”, afirmou o Republicanos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Bolsonaro que finge ter “aquilo” roxo, ladra até a página dois. Quando o bicho pega, coloca o rabo entre as pernas e bate em retirada. Caso questionado, solta uns dois ou três palavrões, seguindo a sua educação parisiense, chama a imprensa de imbecil e tenta estimular a sua pequena massa de apoiadores criada no cercadinho para abafar as críticas com os brados enfraquecidos de “mito”.

Fugindo ao modelo de pé no chão, olho no olho, pautado no inteligente debate de ideias,  o ainda presidente hoje foi pescar, mas não sem antes soltar novamente na internet, seu “livre” paraíso, um vídeo postado há pouco tempo, protagonizado por um gigante injustiçado. O mandatário não foi explícito sobre a referência, mas a publicação ocorre no mesmo dia da prisão do seu aliado Crivella.

Um país “administrado” por um presidente vaselina, que atira no próprio pé pelo menos sete vezes por semana, envergonhado a sociedade internacionalmente, não precisa de inimigos. É muita penitência para um povo só. Era de provação, só pode ! (Marcelo Copelli)