terça-feira, novembro 17, 2020

Vida de Bolsonaro era um paraíso e se tornou “uma desgraça”, por culpa exclusiva dele


Tribuna do Norte - Comportamento de Bolsonaro perante a mídia é tema da charge de Brum

Charge do Brum (Tribuna do Norte)

Carlos Newton

Não foi um desabafo junto ao sacerdote ou a alguma pessoa amiga. O presidente Jair Bolsonaro fez essa sincera revelação de sensações e pensamentos íntimos em discurso pronunciado no Palácio do Planalto, numa cerimônia convocada para comemorar o lançamento de um programa de incentivo ao turismo interno e externo.

“Não vou jamais tecer elogios para mim, jamais. A minha vida aqui é uma desgraça, é problema o tempo todo, não tenho paz para absolutamente nada”, disse Bolsonaro, em chocante manifestação.

PROBLEMAS DE SAÚDE – De repente, desabou o homem-mito, que se dizia imbroxável, mas na vida real não é bem assim, reclama até de problemas de hemorroidas e agora tem de se preparar para a quinta cirurgia de risco, porque a rede implantada no abdômen perdeu aderência em alguns pontos.

Mesmo assim, o presidente insiste em levar seus médicos à loucura, ao andar a cavalo, de motocicleta e em jet-ski, atividades nada recomendáveis em sua situação clínica.

Esses problemas de saúde, incluindo a persistente insônia, são suportáveis. A desgraça, mesmo, são as mazelas políticas, a obrigatoriedade de governar, as audiências, as cobranças, uma chatice interminável.

RECORDAR É VIVER – Em 1987, eu trabalhava na revista Manchete e encontrei Fernando Gabeira esperando elevador no sexto andar do prédio da Câmara Federal. Não resisti e fiz uma crítica direta a ele.

“Você está fazendo falta na Constituinte, é um voto que perdemos. Deveria ter se candidato a deputado federal, era uma vitória certa. Mas fica sendo usado pelo partido como candidato a presidente, governador ou prefeito. Assim, você está jogando sua carreira fora”, disse-lhe, na lata, ele ficou atônito.

“Já pensou se você ganha uma eleição dessa e vira governador? Tem de ficar trancado no gabinete, atendendo pessoas insuportáveis. É uma chatice, você não tem o perfil”, acentuei, e ele nem conseguiu responder, porque o elevador chegou.

O fato é que em seguida Gabeira parou com as candidaturas majoritárias, foi eleito quatro vezes para a Câmara, fez uma carreira belíssima e hoje recebe uma bela aposentadoria parlamentar. Ou seja, houve um final feliz, depois de ter uma recaída  em 2010, quando se candidatou a governador e perdeu para o larápio Sérgio Cabral.   

O MESMO PERFIL – O presidente Jair Bolsonaro está no mesmo caso de Gabeira. Jamais deveria ter sido candidato a presidente. Não tem o perfil, não sabe governar, acha tudo aquilo uma bobajada.

Ao se eleger, destruiu a si mesmo e à família. Se não fosse presidente, o Ministério Público não teria tanto interesse em investigar Flávio e Carlos Bolsonaro, entre tantos parlamentares envolvidos em rachadinhas e rachadões. Até sua segunda mulher, Ana Cristina Valle, e parentes dela estão sendo investigados, por terem aceitado ser funcionários fantasmas.

Se Bolsonaro tivesse ficado na Câmara Federal, sua família continuaria no paraíso, enriquecendo sem parar, comprando imóveis com dinheiro vivo e tudo o mais. Mas ele foi derrotado pela vaidade e agora está destruindo tudo. Por isso, sua vida é uma desgraça. e ele está desgraçando a vida dos brasileiros, enquanto la nave va, cada vez mais fellinianamente.