sexta-feira, novembro 06, 2020

STJ está paralisado após ser alvo do maior ataque hacker; PF investiga criptografia de processos


Servidores afirmam que não conseguem acessar aos sistemas internos

Marcelo Rocha , Matheus Teixeira , Natália Cancian , Danielle Brant e Julia Chaib
Folha

Ministros e servidores do STJ (Superior Tribunal de Justiça) estão sem acesso a processos digitalizados, emails e outros sistemas internos, após a rede interna da Corte sair do ar na tarde da terça-feira, dia 3. O tribunal afirma ter sido alvo de invasão hacker. Acionada pelo STJ para investigar o caso, a Polícia Federal avalia a extensão dos danos. Peritos apuram se os responsáveis pela invasão criptografaram informações processuais e administrativas, o que dificultaria a recuperação de dados.

Há relatos nesta quinta-feira, dia 5, de ataques cibernéticos também contra o Ministério da Saúde e contra o GDF (Governo do Distrito Federal), mas ainda sem confirmação por órgãos de investigação. Dos backups mantidos pelo STJ, há informações preliminares de que um armazenado na nuvem foi comprometido. Avalia-se se houve prejuízo à versão mantida em fita.

FORA DO AR – A rede interna da Corte saiu do ar pouco depois das 15h da terça-feira, dia 3, momento em que as turmas do tribunal realizavam as corriqueiras sessões de julgamento.As atividades do STJ estão suspensas pelo menos até segunda-feira, dia 9. Funciona apenas em regime de plantão. Os prazos processuais estão suspensos até lá. Neste período, apenas o presidente da Corte está atuando em regime de plantão e as petições estão sendo enviadas por email.

Ao deixar nesta quinta-feira a Câmara dos Deputados, onde participou da entrega de anteprojeto de uso de dados pessoais para investigações, o ministro do STJ Nefi Cordeiro falou sobre a interrupção dos trabalhos desde terça-feira. “Enquanto se investiga qual é a extensão desse ataque e quais foram os prejuízos causados, o STJ está trabalhando com a Policia Federal, com órgãos de inteligência, para descobrir, responsabilizar os autores e retornar aos trabalhos”, disse Cordeiro. “O presidente [do STJ], Humberto Martins, pode detalhar isso.”

QUEBRA DE SIGILO – Questionada sobre o nível de acesso a que o hacker teve ao sistema e se corre risco de ter quebrado sigilo de processos judiciais, a assessoria do STJ afirmou que só poderia informar o que está nas notas oficiais emitidas pelo tribunal até o momento. Nos textos, a  Corte afirma que foi detectada a invasão na última terça-feira, dia 3,e que o presidente Humberto Martins está acompanhando o trabalho da PF sobre o caso.

No Ministério da Saúde, servidores afirmam que não conseguem acessar aos sistemas internos da pasta desde o início da manhã desta quinta-feira, dia 5. Em nota, a pasta informa que a equipe técnica do Departamento de Informática do SUS investiga o que causou problema “e trabalha para o restabelecimento do serviço, mas não há previsão para o retorno do sistema”.

ATAQUE – Segundo servidores ouvidos pela Folha, uma das suspeitas em investigação é que tenha havido um ataque hacker. Questionado, o ministério não confirma e diz apenas que as causas estão em análise. Mais cedo, o Datasus enviou uma mensagem a funcionários em que cita que um “problema técnico está impedindo o acesso às máquinas do Ministério da Saúde”.

“A equipe de manutenção está trabalhando, com a maior agilidade possível, para solucionar o incidente. Preventivamente, o Datasus desativou as redes e o acesso à VPN”, diz a mensagem. Na prática, funcionários ficaram sem acesso a internet, linhas de telefone fixo e emails corporativos. Alguns estão sendo liberados.

Segundo a pasta, serviços externos voltados à população, como o ConecteSUS, não foram afetados. Até às 15h, a situação ainda não havia sido normalizada.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Apesar do tom ameno da matéria, trata-se do pior ataque hacker da história a um órgão do Estado no Brasil. Hackers invadiram o sistema interno do Tribunal, criptografaram toda a base de dados da instituição, incluindo e-mails e processos (até mesmo os backups) e pediram resgate pelos dados retirados do sistema. (Marcelo Copelli)