sábado, novembro 28, 2020

Piada do Ano! Silêncio indicaria que Bolsonaro não tem preocupação com inquérito sobre interferência na PF

Posted on 

Bolsonaro optou pelo desgaste político ao risco jurídico

Bruno Boghossian
Folha

Em silêncio, Jair Bolsonaro disse muito. O presidente avisou ao Supremo que não vai prestar depoimento no inquérito aberto para apurar suas tentativas de interferência no comando da Polícia Federal. A intromissão foi registrada em gravações e declarações públicas, mas ele sugere ter motivos para não se preocupar com a investigação.

Há sete meses, Bolsonaro estava emparedado pelas acusações feita pelo ex-ministro Sergio Moro. O presidente se enrolou nas explicações, admitiu que gostaria de trocar a chefia da PF no Rio por interesse de seu grupo político e indicou que a mudança tinha relação com aliados sob investigação no STF.

AMEAÇA – Depois de se beneficiar de uma aliança com Moro, Bolsonaro trabalhou para deteriorar a imagem do ex-juiz. O governo percebeu o perigo daquele episódio e reagiu apavorado –ao ponto de lançar uma ameaça nada velada de golpe de Estado para responder a uma decisão processual burocrática sobre um pedido de apreensão do celular do presidente.

Bolsonaro saiu das cordas porque conseguiu fazer com que o caso esfriasse. As acusações perderam destaque com o avanço da pandemia, e a coalizão forjada no Congresso deu a impressão de que o governo estava protegido de tumultos políticos.No campo judicial, o inquérito foi engolido por discussões sobre a forma do depoimento do presidente: escrito ou presencial.

ACUSAÇÃO – Ele fingiu espernear e acusou o STF de tratamento injusto. O tribunal não tomou uma decisão final, mas o advogado-geral da União mandou avisar que Bolsonaro decidiu “declinar do meio de defesa que lhe foi oportunizado”.

O presidente abre mão de se defender porque sabe que o caso tem tudo para ser guardado numa gaveta. Com a expectativa da impunidade, ele evita o risco de se embananar e dar munição aos investigadores.

De quebra, Bolsonaro ainda desarma um potencial holofote para Sergio Moro. A investigação era um dos poucos palanques políticos do ex-juiz. Ele deve encolher um pouco mais se o inquérito for arquivado.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Mesmo jornalistas importantes como Bruno Boghossian correm risco de ser vítimas de “informações exclusivas e preferenciais”,  fornecidas por alguma fonte ligada ao Planalto. Nessa matéria, por exemplo, a realidade é totalmente  diversa dos informes que foram passados ao analista da Folha.

Bolsonaro está preocupadíssimo e precisa encontrar uma maneira de arquivar o inquérito. As provas contra ele e sua “confissão de culpa” na reunião ministerial indicam que ele pode ser processado, condenado e até sofrer impeachment. Apenas isso. Ontem mesmo, o relator Alexandre de Moraes deu seguimento ao inquérito, pedindo que a Procuradoria se manifeste sobre o depoimento de Bolsonaro.  

O excelente jornalista Bruno Boghossian deveria revelar e desmoralizar sua fonte no Planalto, que “plantou” a mesma informação falsa junto ao repórter Gerson Camarotti, que também publicou. E vida que segue, como dizia nosso amigo João Saldanha. (C.N.)