quinta-feira, outubro 29, 2020

‘Indiretas’ de ex-porta-voz sobre Jair Bolsonaro expõem a divisão entre militares

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Altamiro Borges: Bolsonaro faz novos agrados aos militares - PCdoB

Charge do Nani (nanihumor.com)

Natália Portinari e Naira Trindade
O Globo

O artigo publicado pelo ex-porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, expõe uma divisão entre membros das Forças Armadas. Alguns, mesmo dentro do governo, se queixam do espaço que Jair Bolsonaro vem cedendo ao centrão e à chamada “ala ideológica” — críticas refutadas pelos militares do Palácio do Planalto.

Integrantes da cúpula das Forças ressaltam não haver possibilidade de punição ao militar, da reserva, devido a uma lei de 1986 que garante aos inativos o direito de “opinar livremente sobre assunto político”. Eles lembram que Rêgo Barros foi alvo de “fritura” de Bolsonaro e teve seus poderes esvaziados paulatinamente e, por isso, a crítica seria esperada.

DESLEALDADE – No Palácio, por outro lado, integrantes da ala militar enxergaram na atitude de Rêgo Barros uma demonstração de “deslealdade” e de “vaidade”, segundo a colunista Bela Megale, do Globo.

Sem citar Bolsonaro, Rêgo Barros afirmou em artigo no “Correio Braziliense” que o poder “inebria, corrompe e destrói”. Ele critica também auxiliares presidenciais que se comportam como “seguidores subservientes”. “Os líderes atuais, após alcançarem suas vitórias nos coliseus eleitorais, são tragados pelos comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas de seguidores de ocasião”.

Integrantes do governo que dão razão a Rêgo Barros citam dois momentos recentes em que houve uma exposição negativa das Forças Armadas pelo governo. O primeiro, quando Eduardo Pazuello, ministro da Saúde e general da ativa, foi desmentido por Bolsonaro na discussão sobre a “vacina chinesa”. O segundo, quando o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chamou o ministro da Secretaria de Governo Luiz Eduardo Ramos de “maria fofoca”.

CRÍTICA REITERADA – Nas Forças Armadas, circula uma crítica reiterada a Bolsonaro por não ter cumprido suas promessas de campanha, como manter distância do centrão para governar e fortalecer o combate à corrupção.

A ala militar do Palácio do Planalto, no entanto, trabalha para convencer os generais e comandantes de que as promessas eram um “protocolo de intenções”. Usam também o argumento de que militares não podem “torcer contra” o presidente, já que ele é o comandante formal das Forças Armadas.

Em defesa de Bolsonaro, há generais que afirmam que Rêgo Barros se ressente por não ter sido promovido a general quatro estrelas na última lista para promoção na metade do ano passado, ocasião em que foi para a reserva, o que pesa para sua insatisfação. Eles pontuam também que expôr as divergências publicamente enfraquece o governo.

CUNHO PESSOAL – Para o general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva, Rêgo Barros colocou uma opinião de “cunho pessoal” no artigo. Ele frisa que quem fala pelas Forças Armadas é o comandante do Exército, Edson Pujol, e não Rêgo Barros ou ele próprio.

“Eu não sei o que o levou a se manifestar. É uma tomada de posição pessoal que eu respeito porque conheço ele muito bem, sei que é uma pessoa muito digna” — afirmou, completando: “O conhecimento que ele tem de dentro do governo não é o mesmo que eu tenho de fora de governo. Então para dizer se está certo ou errado… Ele viveu dentro do governo e achou que tinha que se manifestar assim.

ARTIGO OPORTUNO – Dizendo-se preocupado com o sucesso do governo Bolsonaro, o general da reserva Paulo Chagas avaliou como “oportuno” o posicionamento de Rêgo Barros e acredita que o artigo possa, inclusive, trazer ao governo uma repercussão positiva, já que o presidente tomou conhecimento do descontentamento por seus novos comportamentos.

“Todos nós acreditamos no lema do Brasil acima de tudo. Então, é preciso provar que vai mesmo ser o Brasil acima de tudo. Os compromissos de campanha precisam ser seguidos. Não os vejo como apenas protocolos de ideias, os objetivos precisam ser seguidos”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Como se dizia antigamente, estão gritando “barata voa”. Em tradução simultânea, os militares não aturam mais Bolsonaro e nem são representados pelos generais de pijama do Planalto. Apenas isso. (C.N.)