por Mari Leal / Jade Coelho
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Anunciada pelo Banco Central nesta semana, a criação e emissão da nova cédula de R$ 200, que chegará aos brasileiros ainda no mês de agosto, não traz indícios de grandes impactos na dinâmica econômica do Brasil. De imediato, implicações como o risco de aumento da inflação, instabilidades nos preços dos produtos essenciais e desvalorização da moeda brasileira estão descartadas. A análise é do economista e mestrando do Programa de Pós Graduação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jomar Andrade.
“Não há medo da inflação. Este projeto da cédula de R$ 200 já estava previsto e foi só a identificação de que esse é o momento oportuno. As pessoas estão realmente demandando mais moeda e a Casa da Moeda está tendo uma dificuldade de imprimir e essa logística de distribuição está difícil. É previsível que essa demanda por moeda se dê por mais alguns meses e possa até aumentar”, explica Andrade, ressaltando que esse comportamento da economia é natural em momentos de crise, a exemplo deste momento da pandemia do novo coronavírus.
O especialista acrescenta ainda o país passa por um momento econômico denominado “entesouramento”, que é quando as pessoas retêm dinheiro, papel-moeda em mãos. “Isso está acontecendo aqui no Brasil e em outros países também e isso tem pressionando as Casas da Moeda em todo o mundo e também aqui no Brasil”, diz.
Apesar de colocar mais papel em circulação no território nacional, o Banco Central anunciou que não ampliará a base monetária, fator que, de acordo com Andrade, afasta riscos de impactos negativos. “Não vai ter mais dinheiro circulando na economia”, alerta. A criação desta nova cédula difere da operação de injetar dinheiro na economia, utilizada, sobretudo, para financiar gastos públicos.
A posição de solidez econômica e controle da inflação no país também é partilhada pelo administrador de empresas Alex Cruz. “Ao invés de lançar duas notas de R$ 100, lança uma única nota com valor de R$ 200. A inflação poderia se dar se começássemos a lançar no mercado dinheiro acima da demanda e da necessidade. Momentaneamente, não vejo essa possibilidade”.
Cruz pontua, no entanto, há possibilidade de alguma dificuldade no uso efetivo da nota, demanda por troco e um desafio para o comércio, sobretudo para o setor de serviços, que já enfrenta impasses na relação de troca com dinheiro em espécie.
Um dos principais influenciadores para a “fuga” das cédulas no Brasil é o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 – ou R$ 1.200 no caso de mães solo chefe de família. De acordo com Andrade, a velocidade com que o dinheiro, a cédula, retorna para a dinâmica econômica é proporcionalmente mais lenta se comparada com a velocidade que é distribuída. A renda emergencial foi inicialmente fixada em três parcelas e prorrogada por mais duas devido ao alargamento do período crítico da Covid-19 no Brasil. Mais de 50 milhões de pessoas tiveram o pedido efetivado.
A decisão pela criação de uma nova cédula foi criticada por alguns especialistas da economia, que atestam ser uma atitude que caminha na contramão do mundo, visto que, mesmo outros países emergentes, têm investido na eliminação de cédulas e priorizado outros tipos de pagamentos. Dentre as argumentações que fundamentam a crítica está a de que investir na produção de cédulas facilita operações ilegais, a exemplo do tráfico de entorpecentes, lavagem de dinheiro e outras ações fraudulentas.
Andrade, no entanto, pondera a leitura macro da questão e pede um olhar direcionado para a realidade brasileira.
“ A gente precisa entender que a nossa realidade não é a da maioria dos brasileiros. Hoje, 40 milhões de brasileiros não possuem conta bancária. Um levantamento do próprio Banco Central concluiu que a forma de pagamento mais frequente no Brasil é realmente o dinheiro em espécie. 60% das pessoas ainda utilizam o dinheiro em espécie como forma principal de pagamento e 57% como forma de recebimento. Só depois aparecem os cartões de débito ou crédito. Os brasileiros ainda têm uma relação muito forte com o dinheiro, com o papel físico”, destaca.
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