Enviado por Marcia Firmino
Na última sexta-feira dia 24/07, o Jornal Hoje da Rede Globo trouxe uma reportagem sobre um professor do Recife que está entregando atividades da escola na casa dos estudantes. A reportagem tratava o ato de entregar como um ato salvador. Algo bem neoliberal. O capital cria a miséria, o Estado reforça, e as almas do bem salvará a humanidade.
Podemos chamar isso de muitas coisas, menos de trabalho educativo.
Estou chocada com a simplificação do que está sendo chamado de trabalho docente. A pandemia tem nos revelado o quanto que gestores da educação, bem como alguns professores(as), não sabem ou querem negar o que é trabalho docente e sua relevância.
A reportagem dizia que muitos estudantes não tinham os meios técnicos para acompanhar as aulas remotas, por isso o professor levava as tarefas até as casas. Este tal ato humanitário resolveu tudo. O tudo porque a ideia de que receber a tarefa já garantiria o acesso ao conhecimento científico (papel da escola) e o ano letivo já pode ser validado. Daí eu eu tenho três ponderações:
1. Os alunos não têm acesso os meios técnicos. Por que seguir ano letivo por meios remotos? Não têm porque é expressão das desigualdades sociais e o Estado não têm compromisso com estes sujeitos. Ao seguir o ano letivo, este Estado burguês já condenou inúmeras pessoas ao abandono escolar. O professor está fazendo assistencialismo, pois ele não resolverá a raiz da questão e não minimizará o caos da desigualdade posto para estes sujeitos, está reforçando o Estado produtor de desigualdades ao invés de estar ajudando aos estudantes. É uma atitude ingênua.
2. Educação escolar se resume a fazer tarefas? Como responder tarefas sem explicações dos conteúdos pautados na intervenção pedagógica que está na intencionalidade das aulas? O professor está reforçando a ideia de que não precisa de trabalho docente para ensinar e que o aluno aprende sozinho. Um tiro contra a luta em defesa da escola e da profissão.
3. Qual é o trato dado às atividades feitas em casa? Ele leva as atividades de casa em casa. Todos respondem? Como respondem? Copiando do livro? Para que responder? Qual é o trato pedagógico dado às atividades respondidas? Qual é o o retorno pedagógico que estes estudantes recebem? Respondem e guardam em casa? Como pensar em educação sem a análise de cada tarefa respondida, sem apontar os avanços e limites, sem avaliar a real aprendizagem?
Vamos parar de simplificar a importância do trabalho docente. O trabalho docente tem a função de mexer com o sistema psíquico na condução de saltos qualitativos na capacidade dos estudantes se apropriarem da realidade objetiva sistematizada nos conhecimentos filosóficos, científicos, artísticos e culturais. O estudante precisa sair do pensamento sincrético a um pensamento sintético.
Isso só é possível mediante uma ação contínua e interventiva. O que exige acompanhamento diário intermediado por um movimento sincronizado entre conteúdo ensinado e metodologia de ensino l.
Quem simplifica o processo pedagógico, bem como toda organização do trabalho docente, não defende a educação enquanto possibilidade de libertação da população pobre e historicamente oprimida. Está defendendo o reforço das diferenças socioespaciais. Está defendendo o projeto de educação classista neoliberal. Que ato humanitário é este o qual banaliza o ensino e a aprendizagem?
Profa. Dra. Janeide Bispo dos Santos
Professora rede estadual da Bahia.
Podemos chamar isso de muitas coisas, menos de trabalho educativo.
Estou chocada com a simplificação do que está sendo chamado de trabalho docente. A pandemia tem nos revelado o quanto que gestores da educação, bem como alguns professores(as), não sabem ou querem negar o que é trabalho docente e sua relevância.
A reportagem dizia que muitos estudantes não tinham os meios técnicos para acompanhar as aulas remotas, por isso o professor levava as tarefas até as casas. Este tal ato humanitário resolveu tudo. O tudo porque a ideia de que receber a tarefa já garantiria o acesso ao conhecimento científico (papel da escola) e o ano letivo já pode ser validado. Daí eu eu tenho três ponderações:
1. Os alunos não têm acesso os meios técnicos. Por que seguir ano letivo por meios remotos? Não têm porque é expressão das desigualdades sociais e o Estado não têm compromisso com estes sujeitos. Ao seguir o ano letivo, este Estado burguês já condenou inúmeras pessoas ao abandono escolar. O professor está fazendo assistencialismo, pois ele não resolverá a raiz da questão e não minimizará o caos da desigualdade posto para estes sujeitos, está reforçando o Estado produtor de desigualdades ao invés de estar ajudando aos estudantes. É uma atitude ingênua.
2. Educação escolar se resume a fazer tarefas? Como responder tarefas sem explicações dos conteúdos pautados na intervenção pedagógica que está na intencionalidade das aulas? O professor está reforçando a ideia de que não precisa de trabalho docente para ensinar e que o aluno aprende sozinho. Um tiro contra a luta em defesa da escola e da profissão.
3. Qual é o trato dado às atividades feitas em casa? Ele leva as atividades de casa em casa. Todos respondem? Como respondem? Copiando do livro? Para que responder? Qual é o trato pedagógico dado às atividades respondidas? Qual é o o retorno pedagógico que estes estudantes recebem? Respondem e guardam em casa? Como pensar em educação sem a análise de cada tarefa respondida, sem apontar os avanços e limites, sem avaliar a real aprendizagem?
Vamos parar de simplificar a importância do trabalho docente. O trabalho docente tem a função de mexer com o sistema psíquico na condução de saltos qualitativos na capacidade dos estudantes se apropriarem da realidade objetiva sistematizada nos conhecimentos filosóficos, científicos, artísticos e culturais. O estudante precisa sair do pensamento sincrético a um pensamento sintético.
Isso só é possível mediante uma ação contínua e interventiva. O que exige acompanhamento diário intermediado por um movimento sincronizado entre conteúdo ensinado e metodologia de ensino l.
Quem simplifica o processo pedagógico, bem como toda organização do trabalho docente, não defende a educação enquanto possibilidade de libertação da população pobre e historicamente oprimida. Está defendendo o reforço das diferenças socioespaciais. Está defendendo o projeto de educação classista neoliberal. Que ato humanitário é este o qual banaliza o ensino e a aprendizagem?
Profa. Dra. Janeide Bispo dos Santos
Professora rede estadual da Bahia.