domingo, agosto 23, 2020

Mais algumas reflexões sobre Freud, a importância do desejo e as críticas de Popper


TRIBUNA DA INTERNET | Os paradoxos da democracia e da soberania ...Luís Barreiros
Escrevo aqui de Lisboa, onde mais vale tarde que nunca, como dizia o outro. Aproveito também para cumprimentar todos os intervenientes da Tribuna e acrescento algumas observações à excelente discussão até agora entretida após as observações do meu querido amigo prof. Ednei Dutra de Freitas sobre psicanálise.
A resposta do prof. Dutra de Freitas ao artigo do Dr. Christian Cardoso tem o mérito, entre outros, de esclarecer postulados básicos nos quais assenta a psicanálise, pelo menos a ortodoxa freudiana (porque depois de Freud a epistemologia psicanalítica sofreu outras direções e reformulações).
O SER E O ACONTECER – Estes postulados são autênticas categorias ônticas (relativas ao estudo do ser) que ligam o ser ao acontecer psicanalítico, desde o setting psicanalítico até às observações críticas sobre epistemologia da psicanálise.
Sobre o filósofo austro-britânico Karl Popper, gostava de relembrar que a epistemologia popperiana teve essencialmente, pelo menos, segundo alguns autores, três fases distintas: primeiro uma fase caracterizada por uma racionalidade científica onde se tenta demarcar aquilo que pertence à ciência e aquilo que não lhe pertence, depois uma fase de um racionalismo apelidado de “crítico” onde aparece o famoso conceito de “lógica situacional” e, finalmente, uma fase caracterizada por uma epistemologia dita evolucionária onde podemos notar o aparecimento da teoria dos três mundos (de que o Prof. Dutra de Freitas falou e que é aplicada e discutida num dos seus artigos), assim como a ideia dos famosos “programas de pesquisa metafísica” onde seria, segundo Popper, colocada a psicanálise e eventualmente a teoria da seleção natural, de Darwin, numa espécie de cozedura pré-científica.
MELHOR MANEIRA – Deixo aqui uma nota de chamada de atenção para aquilo que, pessoalmente, acho ser a melhor maneira de entendermos as críticas de Popper ao estatuto pretensamente científico (mas na verdade pseudo-científico) da psicanálise e que pode ser encontrado na sua crítica à interpretação dos sonhos, de Freud e, particularmente, na crítica feita à tese freudiana segundo a qual todo o sonho é uma realização de um ou mais desejos.
Popper, K. (1956/1997). O Realismo e o Objectivo da Ciência – Pós-escrito à lógica da descoberta científica (3 ed. Vol. I). Lisboa: Dom Quixote, pp. 182 e ss.