sexta-feira, agosto 28, 2020

Bolsonaro ia “explicar” em live os depósitos de Queiroz à primeira-dama, mas acabou desistindo


Bolsonaro recuou, engoliu a seco e achou melhor não mexer no vespeiro
Julia Lindner
Estadão
No roteiro da live transmitida na noite de quinta-feira, dia 27, o presidente Jair Bolsonaro incluiu como um dos assuntos a serem abordados os depósitos feitos pelo ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Ao olhar a lista, porém, Bolsonaro riscou o item e ignorou o assunto. Pela transmissão ao vivo, foi possível ler o conteúdo do papel rabiscado pelo presidente com sua caneta (o presidente risca o item no minuto 26’12” do vídeo abaixo)
“Botar um ponto final na questão envolvendo Queiroz e Primeira Dama”, dizia o item 7 da lista. Documentos sobre a movimentação bancária de Queiroz e da mulher, Márcia Aguiar, mostram que o casal depositou um total de R$ 89 mil nas contas de Michelle. Os dois são investigados sob suspeita de participarem de um esquema de “rachadinha” no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), quando ele era deputado estadual no Rio.
AMEAÇA – As transações na conta da primeira-dama foram reveladas pela revista eletrônica Crusoé e confirmadas pelo Estadão. Elas ocorreram antes da posse de Bolsonaro, entre 2011 e 2016, mas não foram completamente esclarecidas até hoje. O assunto ganhou ainda mais repercussão no último fim de semana após Bolsonaro ameaçar encher um repórter de “porrada” ao ser indagado sobre os depósitos feitos por Queiroz na conta de Michelle.
No mesmo dia, a pergunta virou um dos assuntos mais comentados do Twitter. O presidente ainda não se pronunciou publicamente sobre a questão.Há dois dias, em visita à Ipatinga (MG), Bolsonaro chamou o jornalista que o questionou novamente sobre o assunto de “otário”. A outro profissional da imprensa, o presidente afirmou que ele deveria fazer uma “pergunta decente”. Mais uma vez, a pergunta não foi respondida.
CRÍTICA – Como é de costume, Bolsonaro não mantém o hábito de seguir o script em suas falas. Na quinta, ele também ignorou outros assuntos do roteiro, que incluía o programa Renda Brasil, que está em fase de elaboração pela equipe econômica e foi criticado pelo presidente no início da semana por sugerir “tirar do pobre para dar ao paupérrimo”.
Apesar dos temas ignorados pelo presidente, na “live” de quinta-feira, Bolsonaro falou sobre o aborto legal, auxílio emergencial, indenizações a vítimas da ditadura e o uso da hidroxicloroquina para tratamento do novo coronavírus. Ele estava acompanhado da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Bolsonaro e os filhos são valentes até a página dois. Ladram, ameaçam, prometem fazer e acontecer, mas quando verdadeiramente acuados, saem pela tangente. Bolsonaro dá uma de tiozão maluco, mas tem plena consciência de que não seria minimamente convincente para explicar os cheques. Engoliu a seco, pulou o previsto no script e mandou passar a régua. Só frouxidão. (Marcelo Copelli)