sexta-feira, julho 31, 2020

General Santos Cruz condena uso político das Forças Armadas para fazer “pressão de um poder contra o outro”

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“Temos problema de liderança”, destacou Santos Cruz
Jéssica Moura
O Globo
O ex-ministro da Secretaria de governo, o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, afirmou que as Forças Armadas “não podem ser politizadas” e usadas para um dos poderes da República pressionar os demais. O general participou de uma videoconferência promovida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) nesta quinta-feira.
“A tentativa de arrastar as Forças Armadas para o varejo político, discussão do dia-a-dia, ela foi mais por conveniência, ou por desconhecimento. Ou pessoas até saudosistas de uma época, hoje está havendo muita transformação”, disse.
MANIFESTAÇÕES – Ele lembrou os episódios de abril e maio, quando o presidente Jair Bolsonaro aderiu às manifestações de apoiadores do governo que pediam intervenção militar e o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional. “Temos problema de liderança, de retorno da velha política, enquanto todo mundo tinha outra expectativa”, afirmou.
Embora tenha sido eleito criticando a troca de cargos no Executivo por apoio no Congresso Nacional, Bolsonaro tem se aproximado de parlamentares do chamado Centrão e indicado apadrinhados desses políticos a cargos no governo.
No início de junho, quando o presidente elevou as críticas a ministros do STF por se opor a decisões da Corte, apoiadores apontavam que o artigo 142 da Constituição, que trata das funções das Forças Armadas, fosse acionado para respaldar uma intervenção militar. À época, o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, também chegou a dizer que as Forças Armadas poderiam ser acionadas se um poder invadisse a competência do outro, declaração que por sua vez foi rechaçada pelo presidente do STF, Dias Toffoli.
USO POLÍTICO – “Hoje as Forças Armadas têm um prestígio muito grande e não é bom que isso seja utilizado politicamente para fazer pressão de um poder contra o outro”, afirmou Santos Cruz, e completou:”Essas interpretações ocasionais, circunstanciais, tentam utilizar politicamente o prestígio das Forças Armadas, que foi construído com um profissionalismo muito grande nos últimos 35 anos. Teve uma participação em 1964, o mundo era outro, era o mundo da Guerra Fria, um mundo em que uma parte acreditava que tinha que tomar o poder pela luta armada, polarização, etc, mas isso são 56 anos passados”.
Santos Cruz destacou que os conflitos são normais na democracia, mas que para ele há quem tente solucioná-los “fazendo alguns atalhos”. Para o general, atualmente, a sociedade “tem mais recursos ainda de manter as Forças Armadas afastadas”.
“Hoje tem um foco de pressão da sociedade, com as mídias sociais, tem mais esse componente hoje para ajudar a fiscalizar e fazer pressão sobre os poderes”, disse. Segundo Santos Cruz, apesar da pandemia do novo coronavírus, o “Brasil não vive um estado caótico” que justificasse uma intervenção dos militares.
PERDAS – O general afirmou que, quando as Forças Armadas se envolvem com a política, haveria perdas em três aspectos: se reduziria o profissionalismo, haveria risco de divisão interna, além do desequilíbrio de forças: “Ela vai desequilibrar, ou para um lado ideológico ou para um lado partidário, ou pessoal de alguma autoridade”, ponderou Santos Cruz.
Um levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU) já mostrou que a quantidade de militares da ativa e da reserva no governo federal dobrou ao longo da gestão de Bolsonaro.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Desde o início, Bolsonaro, prole & Cia, incluindo Augusto Aras, pensaram (?) que as Forças Armadas eram massa de manobra e elemento de uso pessoal para ameaças e provocações. Sempre estiveram enganados e optaram uma “estratégia” que mais se assemelhou a tiros no pé do que ações com algum efeito providencial. As palavras de Santa Cruz ratificam o que grande parte da tropa também pensa. (Marcelo Copelli)