No começo de maio, dois pesquisadores vinculados a Sudene, Rodolfo Benevenuto e Robson Brandão, publicaram um estudo intitulado “Análise multicritério da vulnerabilidade à pandemia de COVID-19 na Região Nordeste do Brasil” onde advertiam para um problema até então pouco abordado no debate sobre a expansão da epidemia relacionada ao capacidade de expansão do corona vírus entre as cidades
O objetivo do trabalho foi o de analisar a vulnerabilidade multifatorial ao Covid-19 de modo a gerar subsídios que possam orientar ações articuladas entre municípios e estados do Nordeste do Brasil.
O estudo trabalhou com quatro possibilidades de contágio. Os grupos de risco, o fator social o acesso a equipamentos de saúde e proximidade a focos de contágio. A pesquisa trabalhou com as perspectivas de contágio da doenças em 1794 municípios da região.
O resultado chegou a uma conclusão de que, depois de Recife em Pernambuco e Fortaleza no Ceará, Caruaru no Agreste pernambucano era a cidade com maior risco de se tornar um centro de propagação da doença exatamente por reunir os quatro fatores pressupostos da análise.
Numa escala de 10.000 pontos Caruaru chegou a 0.9858 superada apenas por Recife que teve a pontuação máxima atribuída como cidade referência e Fortaleza que chegou a 0.9981. Na tabela, Caruaru lidera a lista de 10 municípios mais vulneráveis segundo o indicador multicritério na frente de Olinda (PE), Caucaia (CE) Juazeiro do Norte (CE) e Maracanaú.
O relatório avaliava que exatamente por ter elevado número de pessoas nos grupos de risco, ter o fator social o acesso a equipamentos de saúde e proximidade a focos de contágio ter população cadastrada no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, oferecer acesso a equipamentos de saúde no município e ter uma curta distância em relação aos municípios vizinhos Caruaru tinha as condições ideias para se tornar um polo de contagio.
Na época da divulgação, Caruaru já tinha desenvolvido uma série de ações para se preparar para atender as possíveis vítimas, mas a ideia de ser o lugar com as maiores condições de ser o maior forco no Nordeste provocou reações de resistências entre os auxiliares da prefeita Raquel Lyra que achavam que ele não como se sustentar.
O estudo se revelaria consistente a decisão do Governo do Estado de decretar a volta do fechamento das atividades econômicas prova que a condição de Caruaru assim como sua vizinha Bezerros se tornou necessário.
O problema de Caruaru é não apenas a sua proximidade a focos de contágio devido a curta distância dos municípios vizinhos, mas funcionar como um destino da população infectada pelo Covid-19 nos demais municípios.
Essa maior vulnerabilidade multidimensional só e menor que as capitais dos dois estados do Nordeste. Tal fato evidencia um iminente risco de sobrecarga nos equipamentos de saúde de tais municípios, tendo em vista a demanda adicional oriunda de municípios do entorno com menos acesso a equipamentos de saúde.
Mas talvez o fato mais importante seja mesmo a sua ligação feita pela BR-232 e na capital a conexão dela com um conjunto de outras 50 cidades.
Isso não quer dizer que Caruaru não tenha se preparado. O município recebeu suporte nos seus hospitais, a segunda maior estrutura do Estado atrás apenas do Recife. Também recebeu hospitais de campanha e a cidade organizou movimentos de cuidados para reduzir o contágio.
Entretanto, a sua localização e suas conexões tornaram todos esses esforços apenas fatores de redução dos danos pois como previu o estudo Caruaru não tinha como fugir dessa segunda onda de contágio no Estado.
Ou como é mais preciso dizer. Caruaru não tinha como não receber a continuação da onda de contagio que chegou lá pela BR-232.