Carlos Newton
Quando os roteiristas da premiada série “House of Cards” reconheceram que jamais conseguiriam igualar a criatividade da política brasileira, eles sabiam exatamente o que estavam falando. Na curta era de Jair Bolsonaro, por exemplo, uma das características mais marcantes é o apego à ficção. Tudo parece virtual, com forte presença de fake news, a ponto de o presidente da República enfrentar os cientistas da área médica e apresentar suposta solução para uma pandemia mundial, atundo como garoto-propaganda de laboratório farmacêutico.
Em menos de um ano de governo, a imagem do presidente sofre uma verdadeira devastação, enquanto aumentam os mortos pela pandemia, que ele classificou de “gripezinha” e até a desafiou publicamente, sempre resistindo ao uso da máscara e condenando o isolamento social, ao invés de adquirir previamente os equipamentos médicos necessários e montar os hospitais de campanha.
IMPEACHMENT – A cada dia, aumentam as possibilidades de impeachment, um filme de suspense que se tornará permanente e vai atrapalhar ainda mais o governo. No momento, a grande ameaça é o inquérito que o próprio presidente Jair Bolsonaro mandou abrir contra Sérgio Moro, o então ministro da Justiça e Segurança Social, .
Moro é um verdadeiro ícone da dignidade, que merece estar acima de qualquer suspeita, um dos personagens mais respeitados da atualidade, no país e no exterior. O inquérito contra Moro acabou provando a péssima conduta do presidente, com seis evidências do propósito de interferir na Polícia Federal para defender a família e amigos, em suas próprias palavras.
O crime de prevaricação está mais do que comprovado, e agora Bolsonaro depende desesperadamente do procurador Augusto Aras. Diante do resultado do inquérito, o chefe do Ministério Público está tacitamente obrigado a abrir processo contra o presidente. Se determinar arquivamento, estará cometendo crime de prevaricação.
ÚLTIMO CAPÍTULO – Bem, foi assim que terminou o mais recente capítulo do “House of Cards” nacional, com o presidente da República elogiando publicamente o procurador-geral, dizendo que o trabalho dele é extraordinário e considerando-o um dos favoritos para chegar ao Supremo nas duas vagas que surgirão até maio de 2021.
Mas o roteiro não é escrito por Bolsonaro, que sofre ameaça também com o inquérito das “fakes news”, cuja gravidade fez com que ele ameaçasse o Supremo e a Polícia Federal nesta quinta-feira (“Chega, porra!”), sem que legalmente nada possa fazer como presidente da República, a não ser vociferar e dizer impropérios.
Mas nada disso adianta, o impeachment é só uma questão de tempo. E as Forças Armadas não tomarão a menor iniciativa para manter o capitão inconstitucionalmente no poder.
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P.S. – Os militares (leia-se: os Altos-Comandos) simplesmente deixarão o general tomar posse e tocar o barco, como dizia nosso amigo Ricardo Boechat. E la nave va, cada vez mais fellinianamente. (C.N.)
P.S. – Os militares (leia-se: os Altos-Comandos) simplesmente deixarão o general tomar posse e tocar o barco, como dizia nosso amigo Ricardo Boechat. E la nave va, cada vez mais fellinianamente. (C.N.)