domingo, maio 03, 2020

Moro depôs por mais de 8 horas e apresentou provas para incriminar Bolsonaro


Manifestantes em apoio ao ex-ministro Sergio Moro na porta da Polícia Federal em Curitiba Foto: Andrea Torrente / Agência O Globo
Houve manifestações a favor e contra Sérgio Moro em Curitiba
Andrea Torrente
O ex-juiz Sergio Moro prestou neste sábado mais de 8 horas de depoimento sobre as acusações feitas contra o presidente Jair Bolsonaro durante seu discurso de despedida do comando do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Por volta das 13h15, Moro chegou à sede da superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, num veículo da polícia, que entrou pelo portão dos fundos do edifício. O depoimento do ex-ministro começou por volta de 14h30 e só terminou às 22h40. Moro só deixou as dependências da PF às 00h20, sem falar com a imprensa.
SÓ FALA NOS AUTOS – Em nota, Rodrigo Sanches Rios, advogado do ex-ministro, informou que “como a investigação está em andamento, nossa manifestação será apenas nos autos”.
Ao depor, o ex-ministro reiterou acusações e entregou novas provas contra Jair Bolsonaro sobre sua atuação para intervir diretamente na Polícia Federal, de acordo com a colunista Bela Megale. O ex-ministro colocou à disposição seu celular, com acesso a diversas mensagens de aplicativo de interesse dos responsáveis pelo inquérito.
O depoimento de Moro foi determinado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, que supervisiona as investigações.
INVESTIGAÇÃO – O inquérito aberto pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, investiga o teor do discurso de Moro ao se despedir do cargo de ministro da Justiça, no dia 24 de abril, quando acusou Bolsonaro de tentar interferir indevidamente na PF.
O objetivo da investigação é apontar se Bolsonaro cometeu crime ao interferir nas atividades da PF, como disse Moro, e também se o ex-ministro disse a verdade ou acusou o presidente sem fundamentação em seu discurso.
Aras informou ao Supremo que há suspeita de cometimento de sete crimes: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de justiça, corrupção passiva privilegiada e denunciação caluniosa.
EXIGÊNCIA DE PROVAS – A PGR pediu que, no depoimento, Moro apresentasse “manifestação detalhada sobre os termos do pronunciamento, com a exibição de documentação idônea que eventualmente possua acerca dos eventos em questão”. Em entrevista à revista “Veja”, o ex-ministro afirmou que apresentaria provas para embasar suas acusações.
Em nota divulgada na tarde deste sábado, a Polícia Federal informou que o depoimento de Moro aconteceu na superintendência de Curitiba porque o ex-ministro mora na capital paranaense e que todos os procedimentos seguem as determinações do ministro do STF Celso de Mello.
MANIFESTANTES – Apoiadores do ex-ministro e do presidente Bolsonaro se concentraram ao longo do dia em frente ao edifício da superintendência da PF na capital paranaense. No final da tarde, os manifestantes começaram a se dispersar e apenas um pequeno grupo permaneceu próximo à entrada da PF.
Mais cedo, a espera do ex-ministro para depor gerou um clima de tensão. Um cinegrafista da RIC TV, afiliada da Record no Paraná, foi agredido por um suposto militante bolsonarista. O homem se aproximou do jornalista o ameaçando com a haste de uma bandeira do Brasil e tentando empurrar o equipamento no chão.
O agressor foi afastado pelos policiais e hostilizado pelos demais manifestantes pró-Bolsonaro que o acusaram de ser um infiltrado. O servidor público Álvaro Faria também foi hostilizado pelos manifestantes e foi escoltado para longe do local pela Polícia Militar. Sozinho, ele vestia uma camiseta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aguardava a chegada de Moro.
CRÍTICAS À RAPIDEZ – Ministros militares e também integrantes das Forças Armadas se incomodaram com a rapidez do STF em determinar o depoimento do ex-ministro.
Em ligações telefônicas, na manhã deste sábado, a cúpula militar demonstrou irritação com a decisão de Celso de Mello de logo convocar Moro para depor.
Nas conversas, lembraram exemplos de processos de políticos conhecidos que tramitam há anos no Supremo à espera de julgamento.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– Essas críticas de ministros e militares à velocidade que o relator Celso de Mello está imprimindo às investigações são do tipo Piada do Ano. Bolsonaro deve estar contente com a celeridade da investigação, porque foi ele que mandou o procurador-geral da República, Augusto Aras, abrir inquérito para destruir a imagem de Moro e provar que se trata de um mentiroso. Foram até apontados sete supostos crimes cometidos por ele. Mas todo mundo sabe que “sete é conta de mentiroso”, como se dizia antigamente. Esse inquérito vai destruir o que resta de Bolsonaro. Apenas isso. (C.N.)