terça-feira, abril 28, 2020

Inquérito do Supremo abala seriamente e até desequilibra o governo de Jair Bolsonaro


TRIBUNA DA INTERNET | Fazendo coro ao jornalista José Nêumanne ...
Charge do Alpino (Yahoo Brasil)
Pedro do Coutto
O inquérito em curso no Supremo Tribunal Federal sobre as colocação de fake news contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional já identificou o vereador Carlos Bolsonaro entre os autores dos ataques. Reportagem de Eduardo Colón, manchete principal da edição da Folha de São Paulo deste domingo, estabelece uma situação extremamente crítica para o presidente da República, na medida em que teria ele pressionado a Polícia Federal para a ele revelar o panorama no inquérito instaurado contra os filhos.
Inclusive, delegados da PF recusaram-se a entregar ao presidente cópias dos relatórios. O ex-diretor da Polícia Federal Maurício Valeixo, segundo a FSP, acentuou ao presidente a impossibilidade legal de lhe dar conhecimento prévio dos fatos contidos no trabalho. Por este motivo Bolsonaro teria resolvido mudar o comando da Polícia e também substituir o então ministro Sérgio Moro.
FORTE REPERCUSSÃO – Na minha opinião, a manchete afirmativa do jornal deve desencadear forte repercussão no quadro político e no noticiário dos demais órgãos de imprensa, neles incluídas as redes sociais.
Esse desencadeamento, de acordo com minha experiência de jornalista há 60 anos, levará ao esvaziamento do poder, em consequência do fato de não ser possível recolocar os cristais que se partiram e se transformaram em estilhaços, ameaçando o regime democrático e sensibilizando as instituições, além de dividir as bases de apoio do Palácio do Planalto. Certamente, as edições de hoje vão seguir destacando esses acontecimentos.
EPISÓDIOS ANTERIORES – A crise aberta em reflexo do choque provocado me faz lembrar episódios anteriores que marcaram crises políticas avançando até a solidez do poder, transferindo-o para outros rumos. Me lembro de 1945, final do regime ditatorial de Getúlio Vargas. Vargas estava no poder desde 1930, com a vitória da revolução. Elegeu-se indiretamente em 1934 e em novembro de 37 fechou o Congresso e implantou a ditadura. Foi a primeira fase do Varguismo. A outra iniciou-se em 1950 com sua vitória nas urnas para a presidência da República.
Em 1937, quando implantou a ditadura, recebeu telegrama de felicitações de Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, e também do movimento Integralista Brasileiro, liderado por Plínio Salgado. O movimento integralista era o braço do Nazismo no país.
Insatisfeitos com o fato de Vargas não nomear Plínio Salgado para o Ministério da Educação, os integralistas tramaram matá-lo em 1938, tentando invadir o Palácio Guanabara. Mas esta é outra questão.
ANISTIA POLÍTICA – A ditadura de Vargas prolongou-se até 1945, no final da Segunda Guerra Mundial. No mês de abril Vargas baixou decreto-lei concedendo anistia política a todos os envolvidos nessa situação. Exceção de Gerardo Melo Mourão que havia sido condenado à pena de morte pelo Tribunal de Segurança, hoje ocupado pela escola Barth, no Flamengo, em cujas dependências realizaram-se julgamentos.
Chegando ao mês de outubro Vargas sentiu o esvaziamento de seu poder e foi informado que generais estavam se articulando para depô-lo. O que de fato aconteceu. Mas precedido por um episódio político singular.
Vargas convocou o general Cordeiro de Farias e pediu a ele os nomes dos oficiais que assim procediam. “Não posso fornecer”, disse Cordeiro de Farias. “Por quê?”, indagou Vargas. “Porque”, respondeu o general, “eu sou um deles”. Fechavam-se as cortinas do capítulo da ditadura que desmoronava.