quinta-feira, abril 30, 2020

coronavírus Relaxar isolamento na Bahia pode aumentar em até 50% as infecções por coronavírus

30.04.2020, 05:30:00


Em momentos como o que vivemos, o jornalismo sério ganha ainda mais relevância. Precisamos um do outro para atravessar essa tempestade. Se puder, apoie nosso trabalho e assine o Jornal Correio por apenas R$ 5,94/mês.

Um estudo feito pela Rede Covida, ligada à Fiocruz-BA, estima que, se o isolamento social na Bahia for flexibilizado para as pessoas que não apresentam sintomas de covid-19, o resultado pode ser desastroso. Se o governo estadual decidisse permitir que as pessoas assintomáticas pudessem voltar às ruas neste momento, a taxa de transmissão da doença seria aumentada em 50%, segundo os pesquisadores.
Esta previsão leva em conta um estudo publicado na revista Science, que revelou que 80% dos infectados pelo coronavírus são assintomáticos. Ou seja, pessoas contaminadas que não sentem as complicações da covid-19 podem estar indo às ruas acreditando que não têm a doença.
E esta taxa de assintomáticos é um dos motivos por que o isolamento tem sido recomendado como forma de diminuir a disseminação do vírus pelo mundo. Nessa terça-feira (28), o governador Rui Costa ampliou por mais 15 dias o decreto de suspensão das aulas na rede pública estadual e deixou claro que essa possibilidade de flexibilização está descartada agora.
Na projeção dos pesquisadores, se o relaxamento das medidas fosse feito a partir do dia 27 de abril, isso provocaria, já na primeira semana de maio, um aumento de 75% no total de casos acumulados no estado e 23% no número de óbitos. Atualmente, o estado tem mais de 2,6 mil casos confirmados e 100 mortes pela doença, sendo que 62 óbitos foram em Salvador. O impacto no crescimento de infecções a partir da flexibilidade geraria ainda um aumento de 58% no número de leitos clínicos e 68% nos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). 
Ou seja, os resultados apresentados indicam que a suspensão precoce das medidas de distanciamento social no estado pode levar a graves abalos, tanto nas necessidades de hospitalizações quanto no número de novos casos e, consequentemente, nas mortes. 
Doutora em Matemática pela Universidade do Porto e uma das responsáveis pelo boletim da Rede Covida, Juliane Oliveira relata que num modelo de relaxamento do distanciamento social pode-se pensar que as pessoas que realmente precisam ficar isoladas são aquelas que estão apresentando sintomas da doença ou são grupo de risco, mas não é bem assim. Quem está assintomático pode contribuir para a disseminação do vírus.
Projeções
O estudo aponta ainda outras projeções alarmantes. O número de casos na Bahia poderá dobrar em apenas quatro dias. É esperado que no dia 4 de maio sejam registrados mais de 4,7 mil casos e 125 mortes. Num cenário pessimista, que é quando mais pessoas precisam de internação hospitalar, os óbitos neste dia podem chegar a 187. 
Em Salvador, projeta-se 2,5 mil casos e 80 mortes também na mesma data. A situação deve se agravar a partir de 24 de maio, quando os pesquisadores prevêem a falta de leitos clínicos, seguida pela falta de leitos de UTI no dia 29 de maio. Os dados usados na pesquisa são fornecidos pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab). 
Para o médico do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/Ufba), Luis Eugênio Portela, apesar dos números, o estado ainda está numa situação em que tem margem para planejar um enfrentamento. “É possível acelerar a ampliação de leitos para que não venhamos a ter uma situação parecida com a que está ocorrendo em Manaus [AM]”, afirma.
No Amazonas já foram registrados mais de 4,8 mil casos e a capital do estado vive um drama: o sistema de saúde colapsou e já há uma média de 100 sepultamentos por dia. Para impedir que um cenário parecido seja visto aqui, os pesquisadores listaram seis recomendações para as administrações públicas:
  1. Manter as estratégias de distanciamento social, o uso de máscaras caseiras, a identificação de casos por meio de testes e o isolamento dos indivíduos infectados para reduzir a velocidade de transmissão do vírus e evitar a sobrecarga dos serviços de saúde com consequente aumento no número de óbitos
  2. Ampliar a capacidade de internação em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), disponibilizando leitos, equipamentos e profissionais de saúde em número suficiente para atender simultaneamente a cerca de três mil pessoas acometidas de covid-19;
  3. Mobilizar e treinar em cuidados intensivos profissionais de saúde 
  4. Considerar a possibilidade de regulação única (união da rede pública e privada) dos leitos públicos e privados como estratégia de rápida ampliação da capacidade de internação de casos de covid-19
  5. Estimular a produção local e nacional de equipamentos necessários para as UTIs
  6. Assegurar o abastecimento de insumos, coordenando as ações de compra e logística
  7. Aglomerações nos bancos
    O rompimento do confinamento recomendado tem sido visto diariamente em quase todo o país devido às liberações de saques dos benefícios governamentais nos bancos e casas lotéricas. As aglomerações de pessoas que dependem do auxílio financeiro para conseguir se manter em casa tem sido uma preocupação recorrente das autoridades.
    De acordo com o secretário Sérgio Guanabara, à frente da Secretaria Municipal de Desenvolvimento (Sedur), pasta que fiscaliza e controla as aglomerações na capital, esta terça e quarta-feira foram especialmente complicadas nas agências da Caixa Econômica Federal devido à liberação simultânea do auxílio emergencial de R$ 600, do Bolsa Família e do Salvador Para Todos. 
    “Desde que criamos regras para os horários de ida, não estamos mais encontrando filas nos mercados, diferente dos bancos. Alguns têm filas administráveis, com o ordenamento mantendo o espaçamento mínimo de um metro entre uma pessoa e outra e o uso de máscaras. Naturalmente, nós queremos que as pessoas sejam assistidas financeiramente nesse período difícil, mas nos preocupamos também com as condições da aglomeração, então temos ido nas agências para fazer o ordenamento”, explica Guanabara.
    A Caixa Econômica informou que os aplicativos móveis desenvolvidos pelo banco para o acompanhamento da situação do auxílio emergencial estão recebendo sobrecarga de acessos  — mais da metade dos usuários que utilizaram o app não têm direito ao benefício. O inchaço presencial nas agências está diretamente ligado à falta de informação. Um outro levantamento do banco apontou somente uma a cada cinco pessoas que buscaram as agências físicas nesta última segunda-feira (27) tinham direito ao saque naquela data.
    Conforme o secretário, uma ação está sendo montada para esta quinta-feira (30), quando 50 agentes da Sedur, junto com a Guarda Municipal, irão ajudar a controlar o fluxo das cinco unidades mais movimentadas da Caixa. A fiscalização do distanciamento mínimo e uso de máscaras será feita a partir das 8h nos bairros de Cajazeiras, Itapuã, Liberdade (Largo do Tanque), Pau da Lima e Periperi (Praça da Revolução). 
    ***
    O CORREIO 24 Horas





vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv