sexta-feira, março 27, 2020

Jeremoabo hoje (27.03)filas para pagar e receber



Martiniano Montalvão Jr.

Muitos parecem que vão cair na real somente quando a morte entrar em suas casas. Enquanto a foice não ceifar um filho, um irmão, um velho amigo, elas vão continuar pensando que tudo não passa de uma "histeria"
É uma questão de percepção. Se na cidade existem doentes, pessoas em CTI's, mas nenhuma delas faz parte do nosso convívio, isso acaba não significando nada.
Se precisam colher uma lavoura, descarregar um caminhão, esgotar o estoque de alimentos do restaurante, vender a meta diária de eletrônicos ou atingir o número de usuários dos ônibus, pouco importa se existem riscos de contaminação.
Um cifrão vale mais que um fôlego. A alta do dólar importa mais que a alta no número de vítimas. A queda da bolsa de valores tem prioridade em relação à queda no número de infectados.
Existe um grande "estoque" de pessoas. Há grande "disponibilidade" de vidas. Há excesso de mãos para repor aquelas que se forem. Há o desempregado que aspira a vaga do operário, o subalterno que deseja o posto do gerente.
As pessoas perderam seus nomes. Hoje se resumem a um CPF, um RG, um título eleitoral e porque não dizer um número de um jazigo de um cemitério, corroído pela chuva, pelo sol e pelo desprezo dos que ainda lá não chegaram.
"Tentei chorar, mas não consegui."