José Luís Cardoso Zamith
Bem, presenciamos algo que esta geração que hoje vive (ou sobrevive) jamais imaginou que pudesse acontecer. Por mais que se aventassem hipóteses de guerra, holocaustos, presenciar o problema é outra coisa. Para piorar, diferente da “guerra convencional ” (inimigo conhecido) e da “guerra assimétrica” (terrorismo), esta crise não se resolve com armas (por enquanto) nem tampouco com diplomacia. Mas como resolveremos então?
Esta resposta ninguém tem. Do ponto de vista da gestão, hoje se administra o caos, tenta-se fazer projeções de cenários para mitigar os efeitos e se preparar para o futuro, mas fato é que as demandas de curto prazo são tão imperativas que não há como pensar em futuro, e o ambiente de incerteza combinado com a falta de dados potencializa as dificuldades.
NÃO HÁ RESPOSTAS – Pensando assim é que a escolha de Sofia se apresenta: permitir o aumento do número de contágios (e consequente número de mortes pela Covid-19) ou parar o país e empurrar o problema mais para frente?
De novo, reitero que não há respostas, ao menos para mim, mesmo tendo estado num cargo público relevante e me deparado diversas vezes com soluções que achei que eram melhores (baseadas na minha experiência e no meu juízo de valor), mas que não eram metade do que eu esperava, exatamente porque eu partia de premissas falsas.
O que quero dizer com isso? Que podemos estar construindo castelos na areia.
CONDIÇÕES DIVERSAS – As premissas para o isolacionismo se baseiam em taxas, projeções e quantitativos fundamentados em variáveis que, em alguns casos, não são as nossas (por exemplo, comparar com outros países a realidade de proximidade entre pessoas debaixo do mesmo teto e condições sanitárias que não são as nossas) para estimar o tamanho da demanda do sistema de saúde para assimilar os casos do coronavirus.
Por outro lado, mesmo prevendo o caos econômico que se avizinha, ainda não se consegue precisar o tamanho do socorro e a debacle por falta de arrecadação dos impostos, em virtude da perspectiva da informalidade e das ações desencontradas nas mais diversas esferas de governo.
FORÇA SUPRAPARTIDÁRIA – Ok, dito isso, o que proponho? Que se criasse uma força suprapartidária concentrada na SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), envolvendo academia, empresariado e todas as esferas de governo, para simular todos os possíveis cenários (fundamentados nas nossas premissas locais e regionais), apresentando possíveis linhas de decisão, de forma verticalizada (para União, Estados e municípios) a fim de propiciar sinergia e coordenação entre as partes.
O maior risco que corremos hoje, não é o da doença. É de decisões erradas e descoordenadas entre os responsáveis que podem acarretar milhares de mortes, no curto ou no médio prazo.
E a História cobra!
(José Luís Cardoso Zamith é ex-chefe da Casa Civil do Estado do Rio de Janero)