segunda-feira, março 30, 2020

Flávio Bolsonaro compartilha caso de “cura” do covid-19 com foto de idoso que nunca esteve infectado


Flávio não se desculpou pelo “engano” e deu o caso por encerrado
Adriana Ferraz
Estadão
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) compartilhou em seu perfil no Instagram uma foto falsa em publicação do site bolsonarista Senso Incomum sobre supostos casos de cura da covid-19 com uso de hidroxicloroquina – substância defendida pelo pai, o presidente Jair Bolsonaro, para tratamento dos contaminados pelo coronavírus.
O texto afirma que quatro pacientes de São Paulo se salvaram após uso do remédio e foi ilustrado com a foto de um morador de Porto Alegre que não contraiu a doença. A informação foi noticiada pela jornalista Vera Magalhães, do site BR Político, do Grupo Estado.
FOTO ANTIGA – O paciente que aparece em um leito de hospital é o arquiteto Walter Hugo Balestra Palombo, de 71 anos. Ele realmente esteve internado em uma UTI, mas no meio do ano passado e para tratamento de um enfisema pulmonar. Na imagem, ele está ao lado de uma das filhas, Antônia Balestra, de 41, que também é arquiteta.
A foto na verdade é um frame capturado de um vídeo da RBS, afiliada da TV Globo no Rio Grande do Sul. Em 30 de julho de 2019, Walter foi personagem de uma reportagem da rede sobre a possibilidade de parentes acompanharem internados em UTIs de hospitais de Porto Alegre.
NÃO INFECTADO – O arquiteto, considerado do grupo de risco para a covid-19, não contraiu a doença e segue em isolamento social em sua casa, conforme recomendação do Ministério da Saúde.
O texto dá a entender que, assim como ele, outros supostos três pacientes tomaram a hidroxicloroquina por sete dias e tiveram alta de um hospital da capital paulista, sugerindo que a substância tenha de fato a capacidade de curar os infectados. O tratamento, no entanto, não foi comprovado cientificamente.
DEPOIMENTO – No mesmo texto, a página ainda menciona o depoimento de um médico para afirmar que, “como se trata de um número pequeno de pacientes, ainda não dá para comprovar a eficácia do medicamento, mas que a impressão é muito favorável”.
O site Senso Incomum é ligado ao assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Filipe G. Martins. Ele foi um dos integrantes da comitiva que viajou aos Estados Unidos com Bolsonaro no início de março. Diferente do arquiteto, Martins testou positivo para o vírus.
“ERRO” – . Após a reportagem do BR Politico, no domingo pela manhã, o site acrescentou nota à publicação afirmando que o uso da imagem de Walter Balestra foi um “erro”, pediu desculpas à família e trocou a imagem por uma foto genérica.
“Assumimos o erro e retiramos a imagem, que havia aparecido em uma busca no Google sobre ‘hidroxicloroquina + pacientes curados’”, diz a nota, ressaltando, no entanto, que o texto está correto. O site também negou que seja bolsonarista e afirmou que Filipe G. Martins só colaborou com a página por um curto período, em 2017.
“CASO ENCERRADO” – Em nota, Flávio afirmou que o conteúdo da matéria é verdadeiro. “O importante é que a cloroquina está funcionando na maioria esmagadora dos casos de pacientes com covid-19, graças a Deus. O próprio site ‘Senso Incomum’ já trocou a foto e manteve o teor da reportagem. Então, caso encerrado.”
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TRÊS PERGUNTAS PARA…
Mariana Balestra, publicitária, filha de Walter Balestra
Como a família tomou conhecimento do caso?
Minha irmã, que aparece também na imagem, começou a receber print dessa matéria pelo WhatsApp de amigos que nem moram no Brasil. Quando soubemos logo entramos em contato para que fosse corrigido. É inacreditável saber que meu pai serviu de marionete para fake news.
Seu pai não contraiu coronavírus?
Não, não contraiu nem se curou da doença. Meu pai é do grupo de risco. Tem enfisema pulmonar, se contraísse é possível que não durasse nem cinco minutos. Ele está em casa, quase não sai nem do quarto, de tão assustado que está.
Pretendem tomar alguma medida judicial?
Não. A família agradece a retirada da foto do site e das redes sociais. E lembra que o compromisso com a verdade e a não disseminação das fake news precisa ser permanente, não só quando os abusos são explicitados.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Agora, os parlamentares que deveriam dar o exemplo e checar várias vezes as informações que propagam, compartilham fake news e depois simplesmente dão o caso por encerrado ou alegam terem cometido um “engano”. Ocorre que no momento em que disseminam a desinformação, a mesma é replicada por milhares de usuários. Em tempo de pandemia, a irresponsabilidade agrava-se ainda mais. Conforme disse Mandetta, pipocam “médicos” especialistas no assunto. (Marcelo Copelli)