quinta-feira, março 26, 2020

Crise política chega à exasperação e tem de haver um choque, numa direção ou noutra

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Esta crise tem nome e chama-se Jair Messias Bolsonaro
Pedro do Coutto
A crise desencadeada entre o presidente Jair Bolsonaro e os governadores dos estados, principalmente o de São Paulo, não pode ter uma longa duração e tampouco se afastar de um ponto crítico capaz até de levar a algum tipo de ruptura. Pelo contrário, precisa ter um limite que não pode ser muito longe do clima criado no decorrer de ontem, quarta-feira.
Não é possível que o país permaneça longo tempo vivendo dentro do choque entre o Palácio do Planalto e os governos estaduais. Não só os estaduais, mas também os municipais que lançaram documento defendendo as recomendações da Organização Mundial da Saúde que recomendam a suspensão da maior parte das atividades como forma de conter o coronavirus.
QUADRO INSTITUCIONAL – Inclusive, como foi amplamente divulgado, o choque entre Bolsonaro e João Dória afetou fortemente o quadro institucional, na medida em que pela primeira vez um governador como João Dória revela-se praticamente um porta-voz de tantos outros chefes de Executivos estaduais.
Desse episódio pode se dizer que ele no fundo antecipa o debate em torno da sucessão presidencial de 2022. Mas não é somente esta questão.
A discussão essencial envolve critérios para combater a pandemia e ilumina fortemente a contradição entre a posição do presidente Bolsonaro e a do ministro da Saúde, Henrique Mandeta.
SAÍDE DE MANDETTA? – A brigalhadas levou a uma série de comentários sobre a perspectiva de MandetTa deixar o governo, uma vez que foi indicação do governador Ronaldo Caiado, que, por sua vez anunciou, rompimento com o presidente da República, recorrendo até a termos fortes na medida em que avistava no meio da onda a condição de “incompetente”, definir a atuação do chefe do governo.
Na realidade, nesta quarta-feira o ministro Mandetta anunciou que vai permanecer no governo, como abordou na entrevista coletiva a imprensa na tarde de ontem.
BUSCA DE EQUILÍBRIO – Mandetta, cuja saída era vista como um desastre de grandes proporções para o governo federal, tentou no encontro com jornalistas, transmitido pela televisão, uma fórmula capaz de equilibrar a colocação do presidente da República com o pensamento dos governadores.
O titular da Saúde foi hábil na colocação, mas adotar o que Bolsonaro propõe seria reconhecer que ele, Mandetta, era um dos defensores da medida que suspendia atividades com as quais o chefe do Executivo federal não concorda. Isso equivale a uma contradição entre as muitas contradições envolvendo o Palácio do Planalto e os governos dos estados e municípios.
Vale lembrar que a frente municipal que congrega os prefeitos divulgou documento defendendo a posição adotada pela Organização Mundial de Sáude.
Além de tudo isso no anoitecer de ontem, o vice presidente Hamilton Mourão afirmou que o presidente Bolsonaro não havia se expressado bem na noite de terça-feira quando falou ao país através de cadeia nacional de televisão. A expressão usada por Mourão, sem dúvida alguma, abala o relacionamento do presidente da República com as bases mais próximas de sua confiança.
Estamos atravessando, digo eu, um período de exasperação. Nenhum período desse tipo pode se alongar no indefinidamente. Tem de haver um choque numa direção ou em outra.