segunda-feira, março 30, 2020

Cientistas ganharam o primeiro round, mas Bolsonaro continua inconformado e vai reagir


Jorge Braga
Charge do Jorge Braga (O Popular)
Carlos Newton
O crescimento da pandemia em Nova York e a mudança de atitude do presidente Donald Trump ajudaram muito o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, a convencer Jair Bolsonaro na reunião realizada na manhã de sábado no Palácio da Alvorada, que durou quase duas horas e acabou sem nenhum dos presentes dar entrevista aos jornalistas após o encontro.
A reunião contou também com a presença de diversos ministros, como Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), além do diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres.
CONVERSA DIFÍCIL – Foi uma reunião delicada, em que o ministro da Saúde teve de ser absolutamente franco para mostrar que o Brasil precisa conter a covid-19 a qualquer custo, até que a curva da contaminação comece a cair.
As informações da China, cujo governo anunciou ter contido a pandemia de uma hora para outra, não são confiáveis. Pelo contrário, o país é conhecido por manipular estatísticas, a começar pelo número de mortos pela poluição, que seriam de apenas 400 mil/ano, mas na realidade devem chegar a mais de 4 milhões/ano, no mínimo.
Os outros ministros deram apoio a Mandetta, que saiu fortalecido da reunião e ganhou de Bolsonaro mais 15 dias para isolamento. À tarde, Mandetta voltou a comparecer à entrevista coletiva dos técnicos do Ministério da Saúde e manteve sua posição de sempre, a favor do isolamento.
CONSTRANGIMENTO – À noite, Bolsonaro nem conseguiu assistir aos telejornais, onde Mandetta pontificou, deixando claro que jamais se submeterá a critérios políticos ou econômicos. E o ministro foi mais longe, levando Bolsonaro ao desespero, quando disse que poderia ser demitido, mas não saíra do Ministério enquanto não tiver solucionado a crise da pandemia.
Em tradução simultânea, Mandetta e os governadores bateram Bolsonaro no primeiro round, com mais 15 dias de isolamento, em que a equipe econômica terá de se virar para garantir a sobrevivência da população mais carentes.
Mas vai ser muito difícil derrotar Bolsonaro no segundo round, que deve ocorrer dia 10 ou 11 de abril, quando haverá outra reunião do comitê da pandemia.
BOLSONARO INSISTE –  Foi tenebroso o tour que Bolsonaro fez no domingo pelo comércio de Brasília, anunciando que pode baixar um decreto mandando reabrir todos o comércio e derrubar o isolamento, deixando em casa só os idosos e os jovens que estão na faixa de risco.
O ministro Mandetta é claro que não vai concordar e pedirá demissão. A responsabilidade então recairá inteiramente sobre Bolsonaro. Se a pandemia refluir, ele será reeleito. Mas se continuar em expansão, ele não consegue ser eleito nem mesmo síndico do condomínio Vivendas da Barra, onde morava aquele famoso miliciano.
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P.S. 1 – Ainda acredito que Bolsonaro não vai continuar bancando o maluco, e o fim do iosolamente vai depender não somente da evolução da pandemia nos países mais atingidos, como Itália e Espanha, mas também na situação aqui na filial Brazil e na matriz USA. Vamos aguardar.
P.S. 2 – Como dizia o chanceler Juracy Magalhães no tempo da ditadura, “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Quase 55 anos depois, nada mudou aqui do lado debaixo do Equador. Mas sabe-se que os militares da ativa não concordam com a submissão do Brasil aos EUA, fato que não ocorreu nem mesmo nos tempos do regime militar. (C.N.)