sexta-feira, dezembro 27, 2019

Juiz de garantias é mais um capítulo na luta de Bolsonaro para se livrar de Sérgio Moro


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Charge do Sinovaldo (Jornal VS)
Carlos Newton
Não é nada fácil conviver com Jair Bolsonaro. Desde o início da gestão, o presidente vem tentando desprestigiar seu ministro da Justiça, Sérgio Moro, considerado um dos personagens mais importantes do mundo, com maior aceitação popular do que o próprio chefe do governo. É uma luta surda, um duelo de titãs, desenvolvido em meio ao jogo de cinismo que caracteriza a atividade político-partidária.
Na época, afirmamos aqui na “Tribuna da Internet” que o celebrado juiz Sérgio Moro havia cometido um grande erro ao aceitar o convite de Jair Bolsonaro. Mas foi um erro que pode acabar bem para o país.
Ao assumir o cargo de ministro, a expectativa de Moro era ampliar sua luta contra a criminalidade. Foi seduzido pelo canto de sereia de Bolsonaro e pensou que realmente teria carta-branca para administrar a Justiça e a Segurança Pública. Mas não foi bem assim.
UM PM JURISTA – Após assumir, ao invés de consultar Moro, o presidente passou a acatar as sugestões do assessor jurídico da Casa Civil, Jorge Oliveira, um major da PM que Bolsonaro protegeu desde o ingresso na corporação e que passou para a reserva aos 38 anos de idade, sempre trabalhando na Academia de Polícia, sem jamais ter saído às ruas para enfrentar bandidos, e até aproveitou a boa vida para se formar em Direito.
Jorge Oliveira foi o autor dos primeiros atos jurídicos de Bolsonaro, como a medida provisória que deveria ter sido um decreto e, logo depois, o decreto que teria de ser uma medida provisória. Mesmo assim, Bolsonaro o manteve no cargo e depois até o promoveu a ministro, para ocupar a secretaria-geral da Presidência.
Na primeira entrevista ao Correio Braziliense, após ser nomeado, Oliveira declarou ser “jurista” e passou a concorrer à Piada do Ano.
MORO ENCOSTADO – Os ridículos decretos e medidas provisórias de Bolsonaro, derrubados no Congressso, são todos da lavra de Jorge Oliveira, porque o presidente decidiu encostar Bolsonaro, sobretudo quando notou que jamais poderia contar com ele para inocentar seu filho Flávio e o ex-assessor Queiroz.
Lembrem-se que Moro preparou o pacote anticrime, encaminhou ao Congresso e – surpresa! – Bolsonaro não moveu uma palha para aprová-lo. Pelo contrário, passou a defender a “independência” do Congresso e até aceitou o pacto político sugerido pelo ministro Dias Toffoli, que entrelaçou os Três Poderes contra a Lava Jato.
Depois, o presidente apoiou que fosse retirada do Ministério da Justiça a gestão do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que Moro reivindicara ao aceitar o convite para participar do governo. E ainda não satisfeito,  Bolsonaro passou a alardear que nomearia para o Supremo um jurista “terrivelmente evangélico”…
JOGAR O JOGO – Com uma provocação atrás da outra, Bolsonaro pensou (?) que Moro fosse jogar a toalha e abrir um escritório de advocacia, mas acontece que o ex-juiz aprendeu as regras da política e passou a entrar no jogo.
Há duas semanas, por exemplo, Bolsonaro inventou de tirar do Ministério da Justiça a gestão da Segurança Pública, e Moro fingiu que não entendeu. Nem deu bola.
Agora, ao criticar a criação do juiz de garantias, usando sólida argumentação processual, administrativa e financeira, Moro deu um troco no presidente, que está jogando mais uma cartada não somente para tentar salvar os filhos Flávio e Carlos, envolvidos em rachadinhas, servidores fantasmas e outras irregularidades, mas também para salvar o próprio mandato presidencial, pois foi a prática de rachadinhas que montou o enriquecimento ilícito de Bolsonaro e família.
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P.S. 
– O jogo está apenas começando. Bolsonaro fica no morde e assopra e até alardeou a possibilidade de Moro ser seu vice na “reeleição”, que é a ideia fixa do presidente. 
Nesta quinta-feira, dia 26, Bolsonaro teve um ataque de lucidez e, pela primeira vez, falou sobre a candidatura de Moro em 2022, para dizer que o Brasil estará “bem entregue”. No entanto, o ministro Moro joga na retranca, não comenta as maluquices de Bolsonaro, só vai se decidir na undécima hora, por uma simples razão – por que aceitaria ser vice, se pode facilmente ser o futuro presidente? É essa hipótese que está levando Bolsonaro à loucura. (C.N.)