domingo, dezembro 22, 2019

Ao atacar a imprensa da forma que faz, Bolsonaro acaba atacando a si mesmo


Resultado de imagem para bolsonaro ofende jornalista
De repente, Jair Bolsonaro reviveu seu passado homofóbico….
Pedro do Coutto          
Sem dúvida, a contradição que está no título marcou o comportamento do presidente Jair Bolsonaro na entrevista da manhã de sexta-feira aos jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada. Tanto assim que, no sábado, como a Globonews divulgou, o presidente reconheceu seu erro e portanto tacitamente condenou a si próprio por ter se afastado dos fatos colocados em foco, passando praticamente a invadir o território da ética, o qual limita o comportamento dos presidentes da República. 
São episódios como esse que desgastam a imagem dos governantes, já por si difícil de manter em nível adequado, porque não se pode mesclar a atitude de profissionais da imprensa com o conteúdo dos fatos no foco da opinião pública.
ÉTICA DO CARGO – Afinal de contas, um presidente da República não pode se comportar como as pessoas comuns, por isso ele foi eleito pela maioria absoluta do povo brasileiro.
Os fatos que envolvem seu filho, senador Flávio Bolsonaro, nada têm a ver com o jornalismo. Sem dúvida, há perguntas que constrangem, porém mais constrangedora é a atitude incluída na resposta.
O caso Fabrício Queiroz havia sido objeto de uma decisão do ministro Dias Tofolli, presidente do STF, suspendendo as investigações inclusive obstruindo o fornecimento de dados do antigo COAF.
PERPLEXIDADE – A decisão causou perplexidade. Tanto assim que o plenário do Supremo reverteu o ato por nove votos a dois. Entre os nove votos incluiu-se o do próprio ministro Dias Tofolli, que mudou de opinião no final do julgamento. Portanto, se as investigações prosseguiram, como prosseguem, é com base na resolução da própria Corte Suprema.
Não se pode responder a perguntas atacando os interlocutores sem responder ao conteúdo das colocações. O episódio de sexta-feira deixou muito mal o presidente da República. No sábado, ele se desculpou. Mas isso não altera o conteúdo de seu comportamento.
HOSTILIDADES – Desculpas podem ser pedidas, mas fica sempre a imagem do pronunciamento inadequado e hostil para com o jornalismo e a própria opinião pública.
Os jornalistas não são responsáveis pela criação de fatos e situações difíceis. Culpar os jornalistas é cometer um grave erro. E o presidente da República não pode continuar se comportando sem levar em conta a ética que cerca o desempenho da função.