sexta-feira, novembro 01, 2019

Oposição pedirá a Toffoli que investigação do caso Marielle Franco seja mantida no Rio

Oposição pedirá a Toffoli que investigação do caso Marielle Franco seja mantida no Rio

Randolfe disse que Moro “não pode ser lacaio de um governo”
Jorge Vasconcellos
Correio Braziliense
Lideranças dos partidos de oposição no Congresso defenderam, na tarde desta quarta-feira, dia 30, a permanência, na Polícia Civil e no Ministério Público do Rio de Janeiro, das investigações sobre o duplo assassinato da vereadora do PSOL do Rio Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, ocorrido em março do ano passado. Um pedido formal nesse sentido deve ser feito nesta quinta-feira, dia 31, ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.
O principal assunto do dia no Congresso Nacional foi a reportagem exibida na terça-feira, dia 29, pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, que revelou que, em dois depoimentos no inquérito do caso Marielle, o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro, contou que o ex-policial militar Élcio Queiroz chegou à portaria, no dia 14 de março de 2018, horas antes do crime, dizendo que iria para a residência que o presidente Jair Bolsonaro tem no local.
CASA DE LESSA – Segundo a reportagem, Élcio, na verdade, se dirigiu à casa do PM aposentado Ronie Lessa, no mesmo condomínio. Os dois estão presos por suspeita de serem os autores do duplo assassinato. Élcio é acusado de ter dirigido o carro usado na execução do crime, e Lessa, de ter apertado o gatilho.
Por conta da citação do nome do presidente da República, representantes do Ministério Público do Rio de Janeiro se encontraram com o presidente do STF em Brasília, no dia 17 de outubro, para saber se poderiam prosseguir com as investigações.
CONTINUIDADE NO RIO – Em entrevista coletiva na Câmara, os parlamentares da oposição afirmaram ser fundamental a continuidade das investigações no Rio de Janeiro, uma vez que o trabalho da Polícia Civil e o Ministério Público do estado tem obtido importantes resultados.
Os congressistas também consideraram “precipitada e inadequada” a reação do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que saiu em defesa de Bolsonaro e enviou ofício ao procurador-geral da República, Augusto Aras, pedindo a instauração de um inquérito para investigar as circunstâncias do depoimento do porteiro do condomínio em que o presidente tem uma residência no Rio de Janeiro.
“LACAIO” – O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que causou “espécie e estupefação” a atitude de Moro. “Esse ofício para nós nos causa muito espanto. O ministro da Justiça é o ministro da Justiça do Estado brasileiro, ele não pode ser lacaio de um governo, um lacaio de quem quer que seja, nem que seja este o mais alto mandatário da nação. Encaminhar um ofício ao procurador-geral da República pedindo que seja instaurada uma investigação contra investigadores do caso Marielle me parece ser muito grave, disse o senador.
Segundo  ele, Moro deve explicações sobre os motivos desse ofício, “endereçado nas primeiras horas de hoje, com tamanha celeridade, ao procurador-geral da República, ao qual, o próprio PGR, declinou da competência para a investigação”.
PRECIPITAÇÃO –  “Se existe algum excesso, e existe alguma desconfiança de excesso no procedimento de investigação, a atribuição é pedir uma investigação da Corregedoria de Polícia, ou, no máximo, pedir a investigação da Corregedoria do Ministério Público do Rio de Janeiro, mas não o ministro da Justiça pedir a intervenção do procurador-geral da República. Para nós, esta intervenção do ministro da Justiça é precipitada, inadequada e ofende as próprias atribuições que ele tenha a cumprir no cargo”, acrescentou Randolfe Rodrigues.
O parlamentar disse ainda que ele e o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), assinaram um requerimento para que seja designada, no âmbito do Senado, uma comissão parlamentar para acompanhar as investigações sobre o assassinato de Marielle Franco.  
PROTEÇÃO A TESTEMUNHAS –  Rodrigues disse também que ele e Humberto Costa enviaram ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, uma carta pedindo que o porteiro do condomínio onde fica a residência do presidente Bolsonaro seja incluído no programa de proteção a testemunhas.

O vice-líder do PSOL na Câmara, Marcelo Freixo, lembrou que nesta quarta-feira se completaram 595 dias da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, sem uma resposta sobre quem foi o mandante do crime. Ele disse que considera muito  importante a investigação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro, que levou às prisões de Élcio Queiroz e Ronie Lesssa, mas cobrou a identificação dos mandantes do crime.

“É fundamental, e esse caso só termina, quando nós soubermos quem mandou matar. Esse caso tem mandante, não é um caso de ódio de um atirador. Esse é um caso de morte política, de violência política. Um grupo político é capaz de usar a morte e a violência em um homicídio como forma de fazer política no Rio de Janeiro em pleno século vinte e um”, disse Freixo.

Já Humberto Costa (PE), líder do PT no Senado, anunciou que a oposição vai apresentar um pedido de convocação para que o ministro Sergio Moro preste esclarecimentos à Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor da Casa sobre os motivos que o levaram cometer “uma ingerência indevida” nas investigações em curso no Rio de Janeiro.

Segundo o senador, Moro precisa explicar “por que é que sem ser advogado do presidente, utilizando a condição de ministro, ele se dirige ao Ministério Público Federal, à Procuradoria-Geral da República, para, no nosso ver, intimidar o depoente. Se o depoente disse a verdade ou não, isso cabe à investigação chegar às últimas consequências, mas, de forma alguma, cabe ao ministro da Justiça nem ao presidente da República promover um processo de pedido de abertura de inquérito para investigar o depoente e para investigar as autoridades que colheram esse depoimento”.