Luiz Maklouf CarvalhoEstadão
“Não adianta o Paulo Guedes fazer beicinho. O que adianta é aprovar uma reforma realista, mesmo que mais modesta”, disse ao Estado o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) durante entrevista em seu gabinete de líder da Maioria na Câmara Federal.
“A reforma da Previdência que pode ser aprovada não será a do governo”, afirmou. “Será uma outra, que estamos construindo, com um impacto fiscal, em dez anos, entre R$ 600 milhões e R$ 800 milhões.” Conseguir 308 votos “é uma difícil construção cirúrgica”, avaliou. “O governo não ajuda muito, porque o presidente Bolsonaro tem boa intenção, mas não tem projeto e não tem foco.”
SE GUEDES SAIR… – Ribeiro disse, ainda, que “a aprovação da reforma da Previdência não será a salvação da lavoura, como o governo está anunciando”. Sobre o “beicinho” do ministro da Economia, arrematou: “Se o Paulo Guedes quiser sair não tem problema, o presidente mesmo já disse que a porta está aberta”.
Um dos expoentes do chamado Centrão – que prefere chamar de “Centro” para driblar “o sentido pejorativo” –, Ribeiro, de 50 anos, é ministro de louvor da Igreja Batista do Lago Norte, área nobre de Brasília, onde mora numa casa de 400 metros quadrados, R$ 13 mil mensais de aluguel, com a mulher e as duas filhas (Gabriela, de 10 anos, e Luiza, de 8). É um pai chato? “Eu procuro ensinar desde cedo o caminho que elas têm que andar, para que mais tarde não se desviem”, respondeu, biblicamente.
NO GABINETE – Despacha, como líder, em um apertado gabinete de duas salas no corredor contíguo ao bunker do mandachuva-e/ou-trovoadas Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Quando Maia o chama – o que acontece com frequência, quase que diariamente – Ribeiro não está para mais ninguém. É dessas conversas e conchavos, com ele e com os demais líderes mais influentes da Casa, que saem as nuances e o ritmo com que as reformas caminham, patinam ou empacam.
Um bom exemplo, que Ribeiro pede à assessoria para trazer, é uma nota oficial de 26 de março, subscrita por 16 líderes partidários. Ela diz, assertivamente, balizando a proposta de Paulo Guedes, que “qualquer reforma previdenciária deve ter como princípios maiores a proteção aos mais pobres e mais vulneráveis”, e que, por isso, resolveram “retirar do texto a parte que trata de forma igual os desiguais e penaliza quem mais precisa”.
DISCURSO NO DESERTO – Decidiram ainda, informa a mesma nota, que “não permitirão a desconstitucionalização generalizada do sistema previdenciário do País” – como entenderam que o projeto do governo propõe.
“É um equívoco atrelar a proposta à economia de R$ 1 trilhão”, disse Ribeiro. “É um discurso no deserto. Não aterroriza ninguém, não sensibiliza ninguém.”
Ex-ministro das Cidades no primeiro governo Dilma Rousseff (2010-2014), Ribeiro votou a favor do impeachment que a tirou da Presidência no segundo ano do segundo mandato. Foi carimbado como “traidor”. A palavra pesada não o agasta – pelo menos que se perceba. “Avisei a ministros dela que iria votar pelo impedimento por imposição do meu partido”, disse. “Isso não é traição, é política.”