Carlos Newton
A cada dia surgem várias novidades, a demonstrar que o governo de Jair Bolsonaro é o mais enlouquecido das últimas décadas, pois deixa no chinelo a gestão amalucada de Fernando Collor e só pode ser comparável ao curto período em que o poder esteve nas mãos de Jânio Quadros, que realmente tinha vários parafusos a menos. Para comparar, vamos ficar apenas no que aconteceu nesta segunda-feira, dia 29, quando ficou claro que está tudo de pernas para o ar, com o presidente da República batendo cabeça com ministros e assessores, com transmissão direta, ao vivo e a cores, como se dizia antigamente.
A segunda-feira começou pegando fogo, porque a Folha de São Paulo publicou uma ensandecida entrevista do secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, que enfim revelou a verdade sobre a reforma da Previdência, que vinha sendo mantida em sigilo, porque nem mesmo o superministro Paulo Guedes tinha coragem de anunciar sua proposta, que merece ganhar a Piada do Ano com total antecedência, imitando Pelé, que foi mundialmente consagrado o Atleta do Século, duas décadas antes do ano 2000.
FIGURA MANJADA – Qualquer pessoa com mínimo acompanhamento da economia brasileira sabe quem é Marcos Cintra, professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, que inventou a teoria do imposto único, jamais adotada em nenhum país, e por conta disso se tornou secretário de Planejamento no governo Alckmin em 2003, já se elegeu vereador e até deputado federal, tudo por conta do tal imposto único, uma ideia tresloucada e que é absolutamente impossível de ser adotada.
Quando o nome de Marcos Cintra foi anunciado para a Secretaria da Receita Federal, a princípio se pensou que ele teria sofrido um ataque de bom senso e abandonado o vício do imposto único, que seria uma espécie de superCPMF. Mas era ilusão, Cintra continua a defender o mesmo samba de uma nota só, sem a genialidade de Tom Jobim e Newton Mendonça.
Ao tomar conhecimento da entrevista à Folha, em que Marcos Cintra desmoralizou totalmente a proposta de reforma da Previdência, Bolsonaro entrou em ação, mas apenas para desmentir a cobrança do imposto às igrejas (e aos contrabandistas, segundo Cintra…), mas fez questão de mantê-lo no cargo, ao invés de defenestrá-lo com a urgência necessária.
DESAUTORIZAÇÕES – Nesse Samba do Governo Doido, imediatamente Bolsonaro desautorizou Cintra, mas no mesmo dia o presidente foi também desautorizado por Paulo Guedes, ministro da Economia.
É que, nesta segunda-feira, o chefe do governo defendeu a redução dos juros do Banco do Brasil aos agricultores, medida altamente compreensível, porque a agropecuária é subsidiada em todos os países desenvolvidos e em desenvolvimento, inclusive na matriz USA, com suas vacas de US$ 300 dólares e seu etanol protecionista, que mantém as exportações brasileiras de álcool sobretaxadas desde o governo Reagan, para fortalecer o Proálcool ianque, enquanto aqui na filial Brazil os governantes querem que os produtores rurais se explodam.
Na mesma hora, Guedes mandou desmentir o presidente, através de “assessores” do próprio Planalto, demonstrando o grau de esculhambação reinante na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes.
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P.S. 1 – Na História Contemporânea, somente Jânio Quadros pode ser comparado a Bolsonaro, com a abolição do terno e gravata, substituído pelo slack (vestimenta indiana), as proibições da briga de galo, do biquíni, do lança-perfume e das corridas de cavalo em dias úteis, com as determinações presidenciais sendo feitas aos ministros através de sumários bilhetinhos, escritos à mão pelo destrambelhado presidente da República, que só não quis proibir o uísque, que tomava em doses industriais. Somente quando Jânio renunciou, sonhando que o povo o reconduziria ao poder carregando-o nos ombros, como acontecera em Cuba com Fidel Castro, é que se percebeu que o presidente não batia bem das ideias.
P.S. 1 – Na História Contemporânea, somente Jânio Quadros pode ser comparado a Bolsonaro, com a abolição do terno e gravata, substituído pelo slack (vestimenta indiana), as proibições da briga de galo, do biquíni, do lança-perfume e das corridas de cavalo em dias úteis, com as determinações presidenciais sendo feitas aos ministros através de sumários bilhetinhos, escritos à mão pelo destrambelhado presidente da República, que só não quis proibir o uísque, que tomava em doses industriais. Somente quando Jânio renunciou, sonhando que o povo o reconduziria ao poder carregando-o nos ombros, como acontecera em Cuba com Fidel Castro, é que se percebeu que o presidente não batia bem das ideias.
P.S. 2 – Bolsonaro está indo pelo mesmo caminho e até imitou Jânio na escolha do condutor da política econômica. O ministro da Fazenda em 1961 era o banqueiro Clemente Mariani, e o ministro da Economia atual, Paulo Guedes, tem currículo semelhante. E vejam um detalhe muito importante: quando Jânio renunciou, Mariani foi substituído por outro banqueiro, Walter Moreira Salles. Quer dizer, no Brasil muda-se o presidente, mas os banqueiros continuam mandando na economia. E la nave va, cada vez mais bolsonariana. (C.N.)