quinta-feira, abril 04, 2019

Chanceler alega que a aproximação com Israel não prejudicará o agronegócio


O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, durante audiência no Senado — Foto: Roque de Sá/Agência Senado
Desta vez, Araújo não quis falar sobre o golpe militar de 1964
Mateus Rodrigues e Sara ResendeTV Globo — Brasília
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse nesta quinta-feira (4) que tem “certeza” de que a viagem do presidente Jair Bolsonaro a Israel, e a aproximação entre os dois países, não gerará prejuízos ao agronegócio brasileiro. O risco de uma ruptura com o mercado árabe vem sendo apontado desde que Jair Bolsonaro, ainda na campanha, afirmou que pretendia transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, a exemplo do presidente norte-americano Donald Trump.
A ideia foi convertida na abertura de um escritório comercial em Jerusalém, cidade considerada sagrada por cristãos, judeus e muçulmanos e que não é reconhecida internacionalmente como capital israelense.
RETALIAÇÕES – O eventual reconhecimento por parte do governo brasileiro de Jerusalém como capital de Israel, e também a eventual mudança da embaixada, suscitou o receio de retaliações comerciais de países árabes, grandes compradores de carne bovina e de frango do Brasil.
O embaixador da Autoridade Palestina, Ibrahim Alzeben, que já tinha pedido audiência da Liga Árabe com o Itamaraty, classificou o anúncio como “gesto desnecessário”. A Palestina também chamou de volta seu embaixador no Brasil para consultas e para estudar uma resposta à medida.
“Essa ideia de que a nossa política externa causa prejuízo ao agronegócio tem sido propalada, e até agora não se materializou de forma nenhuma. Tenho certeza de que não se materializará”, disse Araújo, durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
MINISTRA INTERVÉM – O desconforto dos países árabes foi confirmado nesta quarta-feira (3) pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Ela disse que se reunirá com 51 embaixadores dessas nações, no próximo dia 10, como forma de apaziguar os ânimos na área econômica.
Questionado nesta quinta sobre o assunto, Ernesto Araújo disse que há novas parcerias em andamento com o mundo árabe – inclusive, na agricultura e na pecuária. “O chanceler dos Emirados Árabes Unidos já discutiu uma ideia que ele mesmo apresentou, e que nós vamos procurar desenvolver, de melhor utilizar o hub (polo) de distribuição excepcional, que eles possuem, para melhor acesso ao mercado da Índia de produtos alimentícios. […] em benefício, é claro, do agronegócio brasileiro”, afirmou o chanceler.
“Já obtivemos acesso ao mercado de gado vivo da Malásia, que é um país de maioria muçulmana”, complementou.
EUA E CHINA – Na audiência, Ernesto Araújo negou que a aproximação com o presidente norte-americano Donald Trump possa gerar impacto negativo na pauta comercial com a China. Em 2018, assim como em anos anteriores, a China foi o principal parceiro comercial brasileiro nos dois sentidos (importação e exportação).
“Não há de forma nenhuma uma exclusão entre buscar um relacionamento integral, produtivo com os Estados Unidos e, ao mesmo tempo, um relacionamento com a China. Essa visão certamente não é a nossa, tenho certeza de que também não é a visão da China, pelo que já conversamos com eles.”
Antes de ouvir as perguntas dos senadores, Araújo comentou a política externa adotada pelo Brasil nos últimos 30 anos. Segundo ele, nos anos 1990, o país deu sinais de aproximação dos Estados Unidos e da União Europeia mas, na prática, “o objetivo era que uma atrapalhasse a outra”.
UNIÃO CONTINENTAL – Nos anos 2000, disse Araújo, a prioridade foi a “criação de um espaço sul-americano com uma perspectiva muito excludente, extremamente ideológica”.
“O processo de integração sul-americano foi, de certa forma, direcionado para isolar os governos da região que não eram controlados por partidos de esquerda e procurar propelir o conjunto da região a se fechar ao exterior, e se tornar um bloco sujeito a uma determinada ideologia”, afirmou.
Em março, o Brasil e outros sete países sul-americanos assinaram o documento de criação do Prosul, um fórum regional para substituir a atual União das Nações Sul-Americanas (Unasul) – que entrou em crise após impasses com a Venezuela.
NOME DE FANTASIA – A Unasul foi classificada pelo presidente Jair Bolsonaro como “nome de fantasia” do Foro de São Paulo. O foro foi um grupo criado na década de 1990 por partidos de esquerda da América Latina.
Questionado diversas vezes durante a manhã, Araújo evitou tratar de declarações polêmicas dadas por ele, nas últimas semanas, sobre ditadura e nazismo. Em sessão semelhante na Câmara dos Deputados, na semana passada, ele disse não considerar que tenha havido um golpe militar no país em 1964.
Em outra entrevista, dada a um canal do YouTube, o chanceler classificou o nazismo e o fascismo como movimentos de esquerda. Nesta quinta, ele evitou perguntas sobre essa classificação.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Araújo não quis encarar os senadores, mas enviou à ONU um comunicado de que não houve golpe militar em 1964 e os militares apenas impediram uma ameaça comunista e terrorista. Mas não explicou por que os militares levaram 21 anos para abandonar o poder e, mesmo assim, através de eleição indireta(C.N.)