segunda-feira, março 25, 2019

Governadores se descolam de Bolsonaro para ampliar base aliada nas assembleias


Wilson Witzel tem adotado posições mais pragmáticas, que se descolam do discurso de Bolsonaro Foto: Marcio Alves / Marcio Alves
Witzel tem adotado posições mais pragmáticas para governar
Bernardo Mello
Governadores que se elegeram fazendo campanhas alinhadas a Jair Bolsonaro têm adotado, neste início de mandato, posições mais pragmáticas, que se descolam do discurso e até do partido do presidente, o PSL. Enquanto Bolsonaro enfrenta dificuldades na articulação com a Câmara, governadores como João Doria (PSDB), em São Paulo, Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais, e Wilson Witzel (PSC), no Rio, se aproximaram de diferentes forças políticas nas assembleias legislativas, na tentativa de consolidar uma base política que vá além da “onda Bolsonaro” vista nas eleições de 2018.
A avaliação positiva do presidente da República caiu 15 pontos desde janeiro, segundo pesquisa Ibope. Bolsonaro também passa por um estremecimento na relação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que ameaçou deixar a articulação da reforma da Previdência após atritos com o ministro da Justiça, Sergio Moro, e com o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente.
DÓRIA E O PSL – Em São Paulo, o PSDB de Doria não compôs com o PSL no Legislativo. Mesmo com a maior bancada na Assembleia, o partido de Bolsonaro não conseguiu emplacar a deputada Janaína Paschoal na presidência da Casa. A vitória foi de Cauê Macris (PSDB), reeleito em uma chapa que contou com apoio até do PT.
Janaína, uma das autoras do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e que chegou a ser convidada para vice na chapa de Bolsonaro, recebeu apenas 16 votos. Arthur do Val (DEM) foi o único parlamentar de fora do PSL a votar nela.
— Prevaleceu o pragmatismo, que já virou uma ideologia neste país, infelizmente. Fiquei surpresa com a reação dos novos parlamentares. Esperava um desejo maior de mudança — disse Janaína.
BANDEIRAS – Apesar de a montagem da base do governador paulista ter evidenciado o isolamento do PSL, Doria compartilha bandeiras de Bolsonaro. No último dia 16, após encontro de governadores do Sul e do Sudeste, Doria afirmou que o grupo dava “apoio incondicional” à reforma da Previdência proposta pelo governo federal.
No Rio, o maior distanciamento entre Witzel e o discurso bolsonarista foi o pedido de desculpas à família da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em março do ano passado. Na campanha, ele participou de um evento em que uma placa com o nome de Marielle foi quebrada por Rodrigo Amorim (PSL), deputado estadual mais bem votado do Rio.
Em outro movimento, a articulação entre o governo do Rio e a Assembleia saiu da alçada do secretário de Governo, Gutemberg de Paula Fonseca, próximo ao senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), um dos filhos do presidente, e passou a ser atribuição de Cleiton Rodrigues, chefe de gabinete de Witzel. Cleiton foi coordenador das últimas campanhas do ex-governador Anthony Garotinho (PRP).
FLÁVIO DESGASTADO – Presidente do diretório regional do PSL, Flávio Bolsonaro enfrenta desgaste pela investigação sobre movimentações financeiras consideradas atípicas em sua conta e na de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, de acordo com relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Na Alerj, aliados de Witzel apoiaram a recondução de André Ceciliano (PT), candidato único à presidência da Casa. O PSL, que elegeu a maior bancada, até ensaiou lançar candidatura própria, mas a falta de articulação do partido frustrou o plano, o que acabou levando a um racha na legenda.
Dos 12 integrantes do PSL, apenas cinco votaram contra Ceciliano. Outros sete se abstiveram, o que irritou o vereador Carlos Bolsonaro, outro filho do presidente. No Twitter, ele questionou “o que leva um deputado estadual do PSL, que se elegeu graças a Jair Bolsonaro” a se abster numa votação com chapa única do PT.
ADAPTAÇÃO – Em Minas, Romeu Zema, único governador eleito pelo Novo, procurou o veterano deputado Luiz Humberto Carneiro (PSDB) para ser o líder do governo na Assembleia. Carneiro já havia ocupado a função no governo do tucano Antonio Anastasia, entre 2011 e 2012.
Dos 21 deputados que formam o bloco governista na Casa, sete são do PSDB — o Novo só elegeu três parlamentares. Já o PSL, que tem seis deputados, entrou em um bloco independente com legendas como PSD, PTB e DEM. Zema também nomeou como secretários em sua gestão ex-integrantes dos governos Aécio Neves (PSDB) e Fernando Pimentel (PT).
O líder do governo admite que Zema foi pragmático. “Às vezes, por fora, você vê a política de uma forma. Só que, quando está dentro do governo, percebe que não faz nada sem a Assembleia. O governador está se adaptando bem a isso” — disse Carneiro.