terça-feira, fevereiro 26, 2019

Brasil quer Venezuela de volta à democracia sem “medida extrema”, diz Mourão


Vice-presidente Hamilton Mourão cumprimenta militares durante reunião do Grupo de Lima, em Bogotá (Colômbia) — Foto: ASSCOM/VPR
O vice Mourão representou o Brasil na reunião do Grupo de Lima
Por G1 — Brasília
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou nesta segunda-feira (25), na Colômbia, que o governo brasileiro acredita que é possível encontrar uma solução “sem qualquer medida extrema” para, segundo ele, “devolver a Venezuela ao convívio democrático das Américas”.
Mourão deu a declaração durante pronunciamento em encontro do Grupo de Lima realizado nesta segunda em Bogotá. O governo brasileiro foi representado pelo vice-presidente e pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
TREZE PAÍSES – O Grupo de Lima foi criado, em 2017, por iniciativa do governo peruano, com o objetivo de pressionar o regime Nicolás Maduro a restabelecer a democracia na Venezuela. Além de Brasil e Peru, mais 11 países integram o grupo: Argentina, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Chile, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá e Paraguai.
“O Brasil acredita firmemente que é possível devolver a Venezuela ao convívio democrático das Américas sem qualquer medida extrema que nos confunda com aquelas nações que serão julgadas pela história como agressoras, invasoras e violadoras das soberanias nacionais”, discursou Mourão diante dos representantes dos outros países do Grupo de Lima.
O vice-presidente ressaltou ainda que, no contexto atual, o governo brasileiro reconhece que a Venezuela “não vai conseguir se livrar sozinha do regime Maduro”. De acordo com ele, só haverá uma alternância de poder no país sul-americano se houver uma ajuda externa.
MAIS SANÇÕES – Mourão ponderou que a comunidade internacional deve avaliar a imposição de ainda mais sanções contra o regime chavista. Sugeriu pressão sobre Caracas por parte de organismos internacionais – como as Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) – e também agências de aplicação de tratados internacionais, tribunais e bancos de fomento e investimentos.
“À luz dos acontecimentos acumulados há mais de uma década, sabemos que a Venezuela não vai conseguir se libertar sozinha da opressão do regime chavista. A hora é de solidariedade latino-americana”, destacou.
O vice-presidente brasileiro também afirmou que, nos últimos anos, houve uma corrida armamentista na Venezuela patrocinada pelo regime chavista. Segundo Mourão, as compras de equipamentos bélicos sofisticados por parte de Caracas desde 2009 contrastam com o fato de a América do Sul ser a região menos militarizada do mundo.
CRIMES TRANSNACIONAIS – Ele também acusou integrantes do governo Maduro de estarem envolvidos com crimes transnacionais. Em janeiro, o Itamaraty divulgou nota na qual afirmava que o regime chavista é baseado no tráfico de drogas e de pessoas e no terrorismo.
Após o encontro, Mourão e Ernesto Araújo concederam entrevista à GloboNews. Questionado sobre uma declaração que deu sobre o fato de a Venezuela ter dado espaço para atores estranhos à região e se estava se referindo à Rússia, o vice-presidente afirmou que seria “muito ruim” trazer um “clima de Guerra Fria” para a região.
“São os outros países, as grandes potências que têm interesse na Venezuela, e que seria muito ruim trazer um clima da antiga Guerra Fria para dentro do hemisfério ocidental, para a América do Sul, seria muito ruim isso daí”, respondeu Mourão, sem responder se estava se referindo à Russia.
SEM CONFLITO – O vice disse ainda que o país “vai buscar de todas as formas que não haja conflito” na região e repetiu que a atuação deve evitar “trazer conflito para o nosso hemisfério”.
Ao lado de Mourão, o ministro das Relações Exteriores foi indagado sobre o fato de o presidente norte-americano, Donald Trump, estabelecer diálogo com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, mas de “rechaçar” o diálogo com Nicolás Maduro, assim como o Brasil.
Araújo afirmou que “são situações geopolíticas diferentes” e que Maduro está oprimindo o seu povo de maneira brutal. “Não sei se [na Coreia do Norte] necessariamente [existe uma repressão] com esse grau de brutalidade que se viu nesse fim de semana. São situações que não necessariamente se pode comparar, aqui existe toda essa mobilização regional, que não existe lá”, disse o chanceler brasileiro.
RECADO DOS EUA – Convidado especial do encontro do Grupo de Lima, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, prometeu sanções “ainda mais fortes” ao que classificou de “rede de corrupção financeira” do regime de Nicolás Maduro.
Pence pediu que o Grupo de Lima congele os bens da PDVSA, a petroleira estatal da Venezuela, e os transfira para a administração do líder da oposição venezuelana Juan Guaidó. Presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Guaidó se autoproclamou no mês passado presidente interino da Venezuela.
O vice dos EUA fez um apelo para que todos os países do Grupo de Lima reconheçam os representantes do presidente autoproclamado venezuelano.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– Os EUA pedem que os outras países congelem os bens da PDVSA. A Venezuelana tem bens vultosos nos EUA, onde possui três refinarias, oleodutos e a rede Citgo, com quase 14 mil postos de abastecimento, mas, ao que parece, apenas os bens da PDVSA estão bloqueados por lá, porque a Citgo é uma sociedade anônima.  Aqui no Brasil, era sócia da Abreu e Lima, mas não entrou com um tostão, a Petrobras bancou tudo sozinha. (C.N.)