Bela Megale e Mateus Coutinho
O Globo
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Destacado como um dos interlocutores da Vale para discutir com o governo a tragédia de Brumadinho (MG) causada pelo rompimento de uma barragem da mineradora, o executivo Gerd Peter Poppinga é um dos réus no processo que apura a queda da barragem de Mariana, que também pertencia à empresa. Poppinga responde por homicídio triplamente qualificado com outros 18 réus por envolvimento no desastre que culminou em 19 mortos em 2015.
Diretor-executivo de Ferrosos e Carvão da Vale, Poppinga participou de reunião com o presidente da Vale, Fábio Schvartsman, e o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, nessa terça para tratar de questões sobre Brumadinho. O executivo foi um dos responsáveis por elaborar a proposta que a Vale apresentou ao governo relativa ao encerramento de atividades de todas as barragens de rejeitos de mineração do modelo a montante, o mesmo que desabou em Brumadinho e Mariana.
PARTICIPAÇÃO – Na denúncia apresentada em 2015, a Procuradoria da República em Minas aponta que, nas duas reuniões que Poppinga participou no Conselho de Administração da Samarco, foram tratadas a situação da barragem de Fundão. Na primeira delas, em 15 de abril daquele ano, segundo o MPF, o executivo foi informado das falhas na barragem.
“Também teve acesso à imagem da barragem com o Dique 1 recuado junto à ombreira esquerda, em desconformidade com o projeto e o manual de operações; e já alteada em aproximadamente 5 metros em relação à cota da última apresentação realizada ao Conselho”, assinalam os procuradores na acusação.
Já na segunda reunião, em agosto daquele ano, o MPF aponta que o executivo foi avisado de várias medidas de corte de custos da empresa, e recomendou que fossem feitos mais cortes.
CORTE DE GASTOS – “O Conselheiro também recomendou estudos de alternativas para redução dos gastos com projetos de sustentabilidade da operação, dentre eles o alteamento de Fundão até a cota 920, em curso no momento do rompimento”, segue a acusação, que aponta que Poppinga teria se omitido “de forma consciente e voluntária de exercer de forma suficiente e adequada seus deveres de organização, coordenação e vigilância geral das atividades da empresa”.
No fim do ano passado, a defesa de Poppinga entrou com um habeas corpus junto ao Tribunal Federal Regional da 1ª. Região (TRF-1) para que ele não fosse julgado pelo crime de homicídio doloso, ou seja, aquele com intenção de matar. Assim como outros réus do caso, os advogados do executivo defendem que ele responda pelos crimes de desabamento seguido de morte. A justiça ainda não decidiu sobre o pedido.
SEM PASSAPORTE – Em 2015, Poppinga, que era conselheiro da Samarco — empresa denunciada pelo rompimento da barragem de Mariana e que tem a Vale como acionista — chegou a ter o passaporte apreendido. Procurada, a defesa de Poppinga não quis se manifestar.
Em nota, a Vale informou que Poppinga “assumiu a função de conselheiro da Samarco no início de 2015 e participou unicamente de duas reuniões do Conselho de Administração daquela empresa” e que ele “jamais teve envolvimento ou interação com questões operacionais da Samarco”.
Sobre a participação dele na reunião de terça, a empresa diz que “seu papel não é de negociador, e que ele apenas integrou a comitiva na condição de representante institucional da empresa”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Sem comentários. (C.N.)
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