quarta-feira, janeiro 30, 2019

Das 56 barragens da Vale com alto dano potencial, 51 estão em Minas Gerais


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Mais de 300 mortos na barragem que era de “baixo risco”…
Flávia FariaFolha
Uma em cada três barragens da mineradora Vale pode causar grandes perdas humanas e ambientais caso se rompa. Segundo dados da Agência Nacional de Águas, a empresa tem 175 barragens, das quais 56 estão na categoria de “alto dano potencial associado”. A classificação avalia as possíveis perdas de vidas humanas e os prejuízos sociais, econômicos e ambientais em caso de rompimento.
Nessa mesma categoria também estava a barragem de Brumadinho (MG) que se rompeu na sexta-feira (25). Ao menos 84 pessoas morreram e outras 276 estão desaparecidas.
BARATO E PERIGOSO – O número de reservatórios de alto dano potencial da Vale supera o de barragens que a empresa anunciou nesta terça-feira (dia 29) que serão fechadas. Segundo o presidente da mineradora, Fabio Schvartsman, as dez barragens a montante da companhia, todas em Minas, serão encerradas.
O desenho foi usado em Brumadinho e em Mariana (MG), e, embora mais barato, é considerado o menos seguro. Por esse modelo, o reservatório é feito em “degraus” erguidos à medida que a quantidade de rejeitos aumenta.
“É um plano definitivo, para não deixar dúvida de que todo o sistema da Vale está absolutamente seguro”, disse Schvartsman.
INATIVA – A estrutura de Brumadinho já estava inativa quando a tragédia ocorreu, mas ainda acumulava rejeitos de minério de ferro.
Os dados de classificação das barragens foram divulgados pela ANA no final do ano passado com informações relativas a 2017. Além do dano potencial, a agência informa qual é o risco de incidentes em cada estrutura avaliada, de acordo com características técnicas e de conservação.
Sob esse critério, há 1.124 reservatórios de alto risco no país, segundo a ANA. Nenhum é da Vale. Entre os da empresa, 99 são considerados de médio risco, 2 de baixo e há outros 74 não categorizados. Contudo, a barragem que se rompeu em Brumadinho era classificada como de baixo risco sob esse critério, assim como a de Mariana.
FISCALIZAÇÃO – De acordo com a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), lei federal aprovada em setembro de 2010, todos os reservatórios com alto dano potencial devem ser fiscalizados quanto ao cumprimento dos procedimentos de segurança estabelecidos na norma. No país, há 2.986 empreendimentos assim classificados.
Especialistas avaliam, porém, que o número insuficiente de funcionários nos órgãos fiscalizadores impede que as vistorias sejam feitas de maneira adequada.
Segundo os dados mais recentes divulgados pela ANA, há 154 funcionários no país para dar conta de todas as barragens brasileiras — há 24.092 cadastradas, das quais ao menos 4.510 estão inclusas na PNSB, ou seja, precisam ser fiscalizadas segundo a lei.
RESPONSABILIDADE – No caso das barragens ligadas a mineradoras, a responsabilidade é da Agência Nacional de Mineração (ANM), que conta com 20 funcionários na equipe de fiscalização, de acordo com a ANA. Há 790 reservatórios do tipo, 357 só em Minas, estado com a maior concentração.
Em coletiva nesta terça, o presidente da Vale disse que todas as estruturas da empresa estão em “perfeita estabilidade”. “Resolvemos agir de outra maneira”, afirmou, ao justificar a desativação das barragens a montante. Segundo ele, em até 45 dias a mineradora iniciará o trâmites de licenciamento ambiental para que elas sejam fechadas definitivamente, o que é chamado de “descomissionamento”. A previsão é que o processo leve de um a três anos.
Até lá, a operação das minas do entorno dos reservatórios será paralisada.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – O esforço da Folha para proteger a Vale é constrangedor. Como afirmar que estava inativa uma mina onde havia centenas de trabalhadores, dos quais pelo menos 300 morreram? Como aceitar que a barragem que rompeu era de baixo risco? E ainda chamam isso aí de jornalismo… (C.N.