terça-feira, janeiro 01, 2019

Da obra-prima “Amacord”, de Fellini, às memórias de Nelson Rodrigues


Resultado de imagem para nelson rodriguesPedro do Coutto
Ontem escrevi sobre a visão de Nelson Motta a respeito dos dois grandes artistas, programas que foram levados ao ar pela GloboNews. Acentuei que as memórias filmadas por um e transformadas em textos pelo outro foram fundamentais como fontes propulsoras das obras que legaram para diversas gerações e que estão se eternizando no tempo.
Em “Amacord”, que lançou após La Dolce Vita, Fellini destacou sua inspiração através do tempo. O mesmo que Nelson Rodrigues por intermédio das suas memórias, que começaram a ser publicadas no Correio da Manhã e depois transformadas nas confissões editadas pelo jornal O Globo.
ROTEIRISTA – Como parte das lembranças que ficaram nos seus passos no campo da arte, Fellini projetou sua inspiração a partir do roteiro que produziu para “Roma Cidade Aberta”, de Rossellini. O filme marcou a passagem do cinema italiano para uma época em que destacou o neorrealismo. Nelson Rodrigues já era um autor destacado a partir do “Vestido de Noiva”, peça extraordinária à qual me referi ontem.
Em “Roma Cidade Aberta” foram incluídos vários trechos de reportagens focalizando os momentos finais da invasão da Itália, tanto pelas forças alemães, quanto pelas forças americana e brasileira. A situação era singular, pois ao mesmo tempo o país sofria ataques de forças rivais matando e morrendo. Numa sequência, foi reproduzido o cartaz exaltando o General Badgloio, antinazista e que derrotou Mussolini.
SURREALISMO – Porém, o realismo italiano, no caso de Felline transformou-se em fragmentos surrealistas ao longo das belas obras que ofereceu ao cinema e à cultura universal. Nessa sequência, “Amacord” possui uma importância singular e extraordinária. Pois suas lembranças percorrem o tempo chegando à emoção dos fatos que passaram a pertencer ao tempo e a história.
Nelson Rodrigues, autor de uma sequência grande de peças teatrais, ao mesmo tempo escrevia colunas sobre o futebol e a respeito de acontecimentos dramáticos de sua vida. Deve se dizer, antes de tudo, que Nelson foi também um repórter policial. Seu pai era dono de “A Crítica” que desapareceu no crepúsculo da revolução de 30, que levou Getúlio Vargas ao poder.
A alma de várias de suas peças nasceram de seu cérebro e na sua emoção ao refletir sobre a tragédia humana e sobre os conflitos da existência, fenômenos que se encontram no dia a dia. Seus personagens são os do cotidiano. Diferença maior, segundo Carlos Heitor Cony entre sua obra e a de Shakespeare.
PESSOAS COMUNS – Os personagens de Nelson eram pessoas comuns, incluídos na linguagem comum dos bairros cariocas. Os personagens de Shakespeare eram reis, príncipes, generais, enfim figuras da elite.
Tanto um quanto outro hoje vivem na eternidade da arte, onde o tempo é assinalado por um relógio sem ponteiros.