Carlos Newton
Às vésperas de prestar depoimento perante a força-tarefa da Operação Greenfield, que apura corrupção nos principais fundos de pensão do país, o economista Paulo Guedes iria viajar no fim de semana nesta segunda-feira para a Europa, a propósito de participar do evento “Grandes desafios da América Ibérica”, organizado em Madri pela Fundación Internacional para la Libertad, presidida pelo escritor peruano Mário Vargas Llosa, e depois viajar a outros países.
O NOVO GOVERNO – Na capital espanhola, Guedes participaria, ao lado do também futuro ministro Sérgio Moro (Justiça), de um painel intitulado “Brasil, principais alinhamentos do novo governo”, mediado por Vargas Llosa.
Guedes acabou não viajando, por recomendação médica. Segundo a assessoria da Transição, “Guedes está com febre alta, resultante de uma infecção viral nas vias respiratórias”. A nota assinala que “o médico que o examinou recomendou repouso absoluto e desaconselhou viagens de avião nesta semana.
Portanto, será adiada também a série de eventos, previstos para ocorrerem também esta semana na Europa, com o objetivo de apresentar a agenda econômica do próximo governo para grandes investidores interessados no Brasil e mídia especializada”, diz a nota da assessoria da Transição.
TUDO ESTRANHO – Realmente, a situação está nebulosa e tudo parece estranho. Estamos em plena reta final da transição do governo, quando ainda nem estão decididas as reformas da Previdência e da Dívida Pública, que são as principais medidas a serem tomadas no início da gestão de Bolsonaro, e também não se chegou a uma decisão sobre a cessão onerosa do Pré-Sal, para injetar recursos no novo governo e socorrer os Estados.
Mesmo sem estar nada decidido, de repente, não mais que de repente, como dizia Vinicius de Moraes, o futuro ministro da Economia estava seguindo para o exterior com objetivo de com o objetivo de “apresentar a agenda econômica do próximo governo para grandes investidores interessados no Brasil e mídia especializada”?
Quer dizer, os europeus iriam saber as medidas do futuro governo Bolsonaro antes de nós, os brasileiros? O que estará havendo?
E O DEPOIMENTO – A nota nada informa sobre o depoimento à força-tarefa. Terá sido adiado novamente? Ou será que Guedes pretendia sair à francesa e deixar os procuradores e delegados federais falando sozinhos? É tudo muito estranho. Será que a força-tarefa terá de recorrer à condução coercitiva, que no caso tem procedência, em função dos dois adiamentos?
O fato concreto é que essa infecção na garganta chegou em boa hora, porque evita que o futuro ministro da Economia revele em primeira mão ao exterior as medidas que deveria anunciar ao brasileiros, que já estão pagando o salário e as mordomias dele.
Guedes está agindo estranhamente. Desde que saíram as denúncias, ele já deveria ter tomado a iniciativa de explicar em detalhes as operações financeiras que comandou para os fundos de pensão, consideradas temerárias e ruinosas pelos auditores da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar), um autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda. Se ainda não o fez nem quer fazer, é por que tem culpa no cartório, como diziam antigamente.
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P.S. – Segundo a auditoria da Previc, deram prejuízo as aplicações de Paulo Guedes numa empresa de palestras por ele presidida. Eis a questão: Guedes realmente aplicou os recursos dos trabalhadores em uma empresa que pertencia a ele, algo verdadeiramente inexplicável, impensável e injustificável. É por isso que está fugindo da força-tarefa. (C.N.)
P.S. – Segundo a auditoria da Previc, deram prejuízo as aplicações de Paulo Guedes numa empresa de palestras por ele presidida. Eis a questão: Guedes realmente aplicou os recursos dos trabalhadores em uma empresa que pertencia a ele, algo verdadeiramente inexplicável, impensável e injustificável. É por isso que está fugindo da força-tarefa. (C.N.)