quinta-feira, novembro 22, 2018

Moro terá de instruir Bolsonaro a admitir que o poder do governo tem limites


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Charge do Paixão (Gazeta do Povo)
Carlos Newton
O jornalista Claudio Bojunga escreveu o roteiro, Silvio Tendler dirigiu o filme e Wagner Tiso criou a trilha sonora do documentário “Jango”, lançado em 1984, no final da ditadura militar. Quando ouviu a música-tema criada por seu amigo dos tempos das Geraes, Milton Nascimento ficou encantado, colocou letra, mudou o título e gravou “Coração de Estudante”: “Quero falar de uma coisa / Adivinha onde ela anda / Deve estar dentro do peito / Ou caminha pelo ar / Pode estar aqui do lado / Bem mais perto que pensamos / A folha da juventude / É o nome certo desse amor / Já podaram seus momentos / Desviaram seu destino / Seu sorriso de menino / Quantas vezes se escondeu / Mas renova-se a esperança / Nova aurora a cada dia / E há que se cuidar do broto / Pra que a vida nos dê / Flor, flor e fruto / Coração de estudante / Há que se cuidar da vida / Há que se cuidar do mundo / Tomar conta da amizade / Alegria e muito sonho / Espalhados no caminho /Verdes, planta e sentimento / Folhas, coração / Juventude e fé”.
Sempre que se aproxima uma troca de presidentes, lembro esta magnífica canção, que reproduz a ansiedade de todos para que a vida se transforme. Interessante notar que esse sentimento existia até mesmo quando não havia eleição nem democracia. Cada novo presidente-general era sempre saudado com a esperança de que as coisas iriam melhorar.
RENOVA-SE A ESPERANÇA – Também com Jair Bolsonaro a esperança dos brasileiros está se renovando. Este sentimento é verdadeiro. Quem já passou muitas vezes por ele sabe que é uma sensação que depois vai se esvaindo. É como a noite de 31 de dezembro, quando os brasileiros organizam a maior festa do mundo. É uma felicidade só, que depois vai se esvaindo com a volta da rotina do dia a dia.
Muitos brasileiros, algo em torno de 20% da população adulta, sonhavam com uma intervenção militar que varresse os três apodrecidos poderes e colocasse as coisas em seu devido lugar. Foi um sonho tão forte que acabou se concretizando pela metade, através das vitória de Jair Bolsonaro. De uma forma ou de outra, os militares voltaram ao poder, mas foi através do voto direto, a mais democrática das eleições.
MÃOS AMARRADAS – Acontece que Bolsonaro chega ao poder com as mãos amarradas. Sua equipe econômica pensa que descobriu a pólvora e pode mudar tudo de uma hora para outra, como fez João Figueiredo, que disse: “Prendo e arrebento quem for contra a reabertura democrática”. Era bravata pura. Pouco depois, no atentado ao RioCentro, a bomba explodiu no colo do sargento e do capitão que se tornaram terroristas oficiais. Junto com o carro Puma, foram para o espaço também as ilusões do general Figueiredo.
Bolsonaro assume amarrado da cabeça aos pés por um cipoal de leis e regras paralisantes que protegem as elites e a nomenclatura estatal com generosas renúncias fiscais e armaduras salariais cheias de penduricalhos.
O HOMEM-FORTE – Não vai ser nada fácil enfrentar essa gente. Por isso, o homem-forte do governo não é Paulo Guedes, que ficará na História como mais um economista perdido nas próprias ideais. Quem terá o protagonismo na trama é o ex-juiz Sérgio Moro, o homem certo no lugar certo. Já fez muito pela pátria e muito mais há de fazer, à frente do superministério da Justiça. Além de avaliar o que se pode fazer e o que não se deve nem pensar em fazer, Moro dirá também como o governo e os brasileiros terão de proceder.
Em tradução simultânea, Bolsonaro vai chegar ao poder cheio de fake news, tipo “prendo e arrebento”. Mas essa fase ilusória logo vai passar e todos então cairemos na real, inclusive o próprio presidente, que terá de se adaptar às circunstâncias, porque até mesmo o poder tem limites.
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P.S. 1
 – Como o editor da Tribuna é daqueles que não podem passar mais de 15 minutos sem falar mal de alguém, temos de afirmar que vai ser difícil aguentar um chanceler que é capaz de tornar público o seguinte pensamento: “Tenho 29 anos de serviço público e sou também escritor. Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. Essencialmente, é um sistema anti-humano e anticristão. A fé em Cristo significa, hoje, lutar contra o globalismo, cujo objetivo último é romper a conexão entre Deus e o homem. O projeto megapolítico significa abrir-se para a presença de Deus na política”.
P.S. 2 – Como se vê, trata-se de um embaixador de criatividade invulgar, só comparável à de Dilma Rousseff, aquela que sonhava em estocar vento, era alucinada com a mandioca e via um cachorro atrás de cada criança. Bolsonaro precisa se livrar desse chanceler o mais rápido possível, porque as “teorias” dele já estão correndo o mundo, desmoralizando a diplomacia brasileira e o próprio país(C.N.)