quarta-feira, novembro 21, 2018

Cartas de Olga Benário: não se pode vender ou destruir uma página da história


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Imagem relacionadaPedro do Coutto
Reportagem de Juliana Dal Piva, edição de ontem de O Globo, focaliza o esforço de Anita Leocádia para sustar o leilão das cartas de sua mãe, Olga Benário, a seu pai Luis Carlos Prestes, e também de Maria Tereza Vilela Bandeira de Melo, diretora do Arquivo Público do estado do Rio de Janeiro para sustar o leilão de 319 cartas que Olga endereçou a Prestes, ela num campo de concentração, ele preso no Rio de janeiro, depois do fracasso da Intentona Comunista de novembro de 1935.
As condições sobre como as cartas chegaram às mãos de quem as teriam lançadas no lixo em Copacabana são um enigma. O enigma também é a decisão da juíza Soraia Cals responsável pelo pregão. O lance mínimo para a venda de um capítulo da história do Brasil é de 320.000 reais.
DOAÇÃO – Anita Leocádia sustenta que as cartas foram doadas por ela ao Arquivo Público do Rio de Janeiro, versão confirmada pela diretora do Arquivo, Maria Tereza. Não se sabe como as cartas chegaram às mãos do comerciante Carlos Otávio Gouvea Faria, que as teria comprado por valor que ele não revela.
O advogado João Tancredo, constituído por Anita Leocádia está tentando reverter o processo de venda para que as cartas sejam devolvidas a Anita Leocádia, herdeira dos documentos.
O processo ganha importância porque, como eu disse no início, não se pode vender parte da história do Brasil, no caso até capítulo da história universal retratando mais uma visão do nazismo. Olga Benário estava grávida de Prestes. Ela veio da Alemanha para participar da rebelião de novembro de 35. A tentativa comunista fracassou e ela foi presa junto com Prestes no início de 1936.
VARGAS PERMITIU – Olga Benário estava grávida mas o governo ditatorial de Vargas atendeu a uma manifestação da Alemanha de Hitler para que ela fosse julgada pela hipótese de um crime que teria praticado em seu país. Vargas entregou Olga Benário a um comando alemão, nazista, que veio buscá-la no Rio de Janeiro.
Temendo a possível ação de sindicatos comunistas ao longo do trajeto, o governo de Hitler enviou um navio para levá-la de volta. Sem escalas, direto ao porto de Hamburgo.
Com esse episódio, agora relembrado, escreve-se mais uma página da história num contexto internacional dos mais difíceis, inclusive porque submarinos nazistas afundavam navios de carga brasileiros.
APAGAR A HISTÓRIA – Seja qual for o desfecho do recurso de Anita Leocádia destaca-se uma tentativa estranha de tentar apagar uma página da história.
Mesmo que o leilão seja vencido por um colecionador, acredito que exista uma cláusula que impeça uma possível destruição de documentos através dos quais pode-se viajar mais claramente no panorama da memória nacional.