Minha coluna na Folha de hoje:
A Apeoesp, o sindicato dos professores da rede oficial de ensino do Estado de São Paulo, que tenta manter no muque uma greve à qual a categoria se nega a aderir, teve a coragem de patrocinar na TV uma campanha publicitária em que recomenda que os pais não levem seus filhos à escola. É indecente. É asqueroso.
Que tipo de gente faz isso? Isabel “Bebel” Noronha, “presidenta”, como ela gosta, da entidade, é aquela senhora que anunciou, em 2010, em outra greve malsucedida, que “quebraria a espinha” do então governador José Serra (PSDB). Na sequência, participou de um ato em apoio à candidatura de Dilma Rousseff (PT). A assembleia-fantasma da Apeoesp que aprovou a paralisação neste ano ocorreu no dia 13 de março, na rua, em meio aos “protestos a favor” do governo, sem que se pudesse saber quem era e quem não era professor.
No programa “Os Pingos nos Is”, da Jovem Pan, recebi um telefonema indignado de dona Márcia Amaral. Tem seis filhos. É diarista. Estava inconformada com a propaganda de Bebel, a burguesona do trabalho alheio que pretende cassar dos pobres o direito à escola para que possa impor a sua agenda na marra. Na quarta, 30 grevistas invadiram a Diretoria Regional de Ensino da mesma São Bernardo de onde Márcia me ligou. Dois funcionários ficaram feridos.(…)
VALENTINA DE BOTAS
“Meu filho Absalão! Absalão, meu filho!”, me lembro do lamento denso do rei Davi, em Samuel II, dilacerado pelo assassinato do filho que tentara matá-lo para lhe tomar o trono. Mesmo não vencendo o pai, Absalão destruiu-lhe um pedaço da alma, tanto que a ruína e morte de Thomas Sutpen, o protagonista do magnífico romance de Faulkner “Absalão! Absalão”, efetivadas pelos próprios descendentes, prenunciam-se na repetição do nome do filho do rei hebreu.
REYNALDO ROCHA
Questionam-me sobre a morte do menino Eduardo na Favela do Alemão. Qualquer assassinato é uma agressão ao existir. O de uma criança, uma barbárie sem adjetivações suficientes. A mim, não restam dúvidas que houve um homicídio especialmente cruel. Um policial de uma UPP disparou seu fuzil contra uma criança que brincava armada de um celular.
Governos democráticos são eleitos para servir a sociedade e quando fracassam nessa missão entra em cena a opção pela alternância no poder. É o caminho natural que a democracia oferece para os cidadãos se livrarem de governantes nos quais perderam a confiança. Mas o que acontece quando essa falta de confiança é dramaticamente exteriorizada decorridos apenas três meses de um mandato com validade de quatro anos? É exatamente diante dessa grave e delicada questão que a última pesquisa de opinião pública CNI/Ibope coloca a consciência democrática do País.
No dia 13 de março, a manifestação de apoio a Dilma Rousseff convocada pelo PT e por centrais sindicais não reuniu mais de 10 mil pessoas na Avenida Paulista. O rebanho seria ainda menor se não fosse distribuído um farto estoque daquele kit que junta sanduíche de mortadela, tubaína e 50 reais. Para mascarar o fracasso, os organizadores recorreram ao milagre da multiplicação de gente. O Datafolha conseguiu enxergar 41 mil manifestantes. O PT decidiu que passavam de 100 mil.
Conversa de 171. Se acreditassem nos números do Datafolha ou em seus próprios cálculos, os guerreiros de Dilma voltariam à Paulista no próximo dia 8, para outra declaração de amor ao governo fantasiada de “ato em defesa da Petrobras”. Prudentemente, preferiram juntar-se no auditório da Câmara de Vereadores de São Paulo. Ali cabem ─ se tanto ─ 500 pessoas. É pouca gente para uma manifestação de rua. Mas, se a a polícia resolvesse engaiolar os culpados acampados no palco ou na plateia, a multidão de pecadores lotaria pelo menos 200 camburões.
(Ilustração: Boatus.com)