Você não sabe, mas seu voto já foi vendido
Fábio Oliva (*)
Você não sabe, mas o seu voto já foi vendido.
Pouco importa em qual candidato ou partido você vai votar. Alguém já recebeu
por ele. Mesmo antes da abertura da temporada de caça aos votos, em julho, seu voto já
vinha sendo negociado.
Os mercadores do seu voto são principalmente vereadores,
ex-vereadores, prefeitos e ex-prefeitos, presidentes de sindicatos e
associações de moradores de bairros, donos de jornais e dirigentes de entidades detentoras de rádios
comunitárias, padres,, pastores e outros chamados de “lideranças comunitárias”.
Eles
recebem
vultosas quantias de candidatos a deputado estadual, federal, senador,
governador e presidente para cooptar o seu voto, mesmo que você não veja
a cor
de um tostão. A conta feita, geralmente, é simples: os compradores
verificam
quantos votos os candidatos a vereador e a prefeito conseguiram dos
incautos
eleitores nas últimas eleições, ou quanto votos tais "lideranças" deram
aos candidatos que apoiaram, estimam uma redução de 50% e pagam entre
R$ 30
e R$ 80 por voto resultado desta aritmética. Os vendedores mais
eficientes
ainda conseguem empregos com polpudos salários para si ou para esposas,
filhos
e outros parentes como "aspones" nos gabinetes dos eleitos. Tudo isso
sem
precisar pisar o pé nos gabinetes daqueles. O apoio de um líder político
de
maior expressão está sendo comprado por R$ 200 mil.
Não pensem caras-pálidas que os candidatos a
prefeito e a vereador nas últimas eleições e as tais "lideranças" comunitárias estão percorrendo as poeirentas e
esburacadas ruas e estradas de seu município com caixas de som sobre o teto ou
caçamba de seus veículos, por puro idealismo.
E tem "liderança" que vende seu "apoio" político a mais de um candidato ao mesmo cargo. Recebe de ambos e jura fidelidade e compromisso. É de matar de rir. Alguns prefeitos recebem verdadeiras bufunfas dos candidatos, embolsam o dinheiro e bancam o "apoio" político com verbas das prefeituras.
Não acreditem que fazem isso por
convicção ideológica. Tampouco ache quem realizam essa tarefa por imaginarem que
o candidato para o qual estão pedindo o seu voto, já vendido, é o melhor e mais
compromissado com a resolução dos problemas que afligem você e seus
conterrâneos.
Não!
Estão fazendo isso porque já receberam o pagamento, em seu
nome e, agora, têm que dar o retorno esperado. É que, em alguns casos, a
combinação inclui além do pagamento inicial, um bônus se a quantidade de votos
por eles obtidos (comprados) atingir o número esperado.
Um candidato a vereador
me revelou que saiu da última política endividado e que recebeu R$ 15 mil para
pagar tais dívidas com o compromisso de pedir votos para um deputado federal.
Também obteve emprego de assessor no gabinete do mesmo. Seu candidato desistiu
da disputa. Então ele negociou seu “apoio” político por R$ 100 mil para outro
político.
Lideranças do baixo clero, sem muita expressão,
recebem na pior das hipóteses R$ 5 mil “para ajudar no combustível” e saírem em
busca do seu voto. É por isso que há tantos candidatos “paraquedistas” com
cartazes nas ruas. Gente que você nunca viu ou sobre as quais você nunca ouviu
falar. Eles surgem do nada, com aquela imagem retocada a Photoshop, sem um pé
de galinha, sem uma ruga, sem uma mancha, sem uma verruga ou pinta na cara. Nariz de Pinóquio então, nem pensar. De
tão caras-de-pau, quando fazem a barba não cai pelo, cai é serragem.
Calculando por baixo, levando em consideração
que cada voto tenha sido vendido a R$ 30, significa dizer que esses
agenciadores de votos terão que, na pior das hipóteses, arranjar cerca de 500
votos para os candidatos aos quais venderam seus “apoios” políticos. E, se
conseguirem mais de 500 votos, ainda podem garantir uma boquinha como assessor de
alguma coisa, após o período eleitoral.
Essa deplorável realidade não pode ser atribuída
apenas à ignorância política da grande maioria dos eleitores. Também nada tem a
ver com sua realidade econômica ou social. Noutras palavras, não são apenas os
eleitores pobres e miseráveis que têm seus votos vendidos. Mesmo o voto de quem
conquistou nível superior de educação entra nessa dança. Nesse caso a moeda de
troca do voto nem sempre é dinheiro, mas as massagens no ego, os apalpos na
vaidade, a necessidade de demonstrar prestígio dizendo que é amigo pessoal
desse ou daquele político. É... não se
engane, tem gente assim.
Nesse período, não faltam padrinhos de formatura, casamento, etc.
E, não importa o que você faça, seu voto já
foi vendido. Mesmo que você vote em branco ou anule o seu voto, estará
contribuindo para a eleição de alguém, pois o candidato que comprou votos terá necessidade de menos votos se eleger.