sábado, julho 09, 2011

A limpeza impossível

Carlos Chagas

O convite feito por Dilma Rousseff ao senador Blairo Maggi para ocupar o ministério dos Transportes mostra como será difícil para a presidente promover a limpeza do ministério, ou seja, passar da equipe possível, que se obrigou a formar antes da posse, para a equipe ideal, que pretendia organizar no fim do ano. A demissão de Alfredo Nascimento custou um pouco mas saiu, imaginando-se então estar a chefe do governo livre das tenazes do PR e pronta para seguir adiante, libertando-se de outros ministros de outros partidos, que engoliu sem escolher. Já tinha, inclusive, encontrado o nome certo para o lugar certo, o secretário-executivo do ministério dos Transportes, Paulo Passos, um técnico acima de qualquer suspeita para ser efetivado.

Foi quando a obstinação do Partido da República de não entregar seu feudo transformou-se em queda de braço, facilmente vencida pela ameaça de 41 deputados e 6 senadores abandonarem a base parlamentar oficial, entrando em regime de obstrução. Surgiu dessa postura o convite, eufemisticamente chamado de sondagem, para Blairo Maggi tornar-se ministro. Logo ele, padrinho de Luiz Antônio Pagot, não por coincidência ameaçando contar em audiência na Câmara quem eram seus verdadeiros patrões no governo.

Como ensaio-geral, o ex-diretor do Dnit acaba de jogar um pouquinho de barro no ventilador, sugerindo que obedecia ordens do então ministro do Planejamento do governo Lula, hoje ministro das Comunicações de Dilma, Paulo Bernardo.

De tudo, nessa novela ainda inconclusa, flui um roteiro de dificuldades para a presidente da República. Se vem perdendo o confronto com o PR, o que dizer da hipótese de enfrentar o PMDB? E o PT?

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DESARMAR A BOMBA

O fim de semana será dedicado pelo senador Blairo Maggi à tarefa de desarmar a bomba, ou seja, convencer Luís Antônio Pagot a não denunciar o PT como responsável maior pelas decisões de superfaturamento de obras rodoviárias executadas pelo Dnit. Já que o PR conseguiu dobrar a presidente Dilma, levando-a a convidar Maggi, mesmo que ele não aceite, ficará patente a força do partido para indicar outro ministro. Mas apenas se Pagot recolher os flaps, não decolar e voltar ao hangar. Caso deflagre a guerra das acusações, nada feito. Como o já agora ex-diretor do Dnit é fiel acólito do senador por Mato Grosso, tudo indica que poderá refluir. Depois, dirá que as ameaças não passaram de intriga da imprensa…

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JUSTIÇA NECESSÁRIA

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara acaba de aprovar projeto já votado no Senado incluindo Pedro Aleixo na galeria dos ex-presidentes da República. O mesmo já aconteceu com Tancredo Neves, que apesar de não ter assumido, por decisão legislativa ganhou o status de presidente.

Pedro Aleixo merece o mesmo, pois vice-presidente do marechal Costa e Silva, só não o sucedeu por conta de um golpe militar. Com a doença que impossibilitou o velho presidente de continuar governando, seria constitucional e natural a ascensão de seu vice, que em vez de assumir foi preso pelos três ministros militares. Depois, por novo ato de força, consideraram extinto o seu mandato. Assim, nada mais lógico que a reparação histórica, agora a cargo do plenário da Câmara e, depois, da sanção da lei pela presidente Dilma Rousseff.

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DECLINOU DA HONRARIA

Para confirmar o inflexível espírito democrático de Pedro Aleixo, vai um episódio só agora revelado por seu filho, o padre José Carlos Aleixo. Antes da decretação do AI-5, aquele que mergulhou o país nas brumas da ditadura, o presidente Costa e Silva pedira ao vice para representá-lo na cerimônia de posse de Richard Nixon, eleito presidente dos Estados Unidos. Estava tudo preparado para sua ida a Washington, em janeiro de 1969, quando em dezembro de 1968 os radicais levaram Costa e Silva a editar o execrável ucasse. Pedro Aleixo, única voz contrária ao AI-5, pediu a Costa e Silva que o dispensasse da honraria, pois não gostaria de chegar aos Estados Unidos como representante de um governo ditatorial.

Foi atendido e continuou, junto com o presidente, elaborando um projeto alternativo para, de novo, constitucionalizar o país, quer dizer, revogar o AI-5 e reabrir o Congresso, então posto em recesso. Quando faltava uma semana para que tudo se concretizasse, o presidente é acometido de um derrame cerebral, quando então uma Junta Militar usurpa o poder e impede Pedro Aleixo de assumir.

Fonte: Tribuna da Imprensa