terça-feira, junho 28, 2011

A cigarra e a formiga na vida real

"Durante a infância e juventude, meus filhos sempre foram privados de qualquer tipo de excesso. Sempre entendi que, se tivessem pouco, uma vida dentro dos padrões normais, sempre estariam bem"

João Bosco Leal*

Todos sabem da fábula da formiga e da cigarra, quando uma trabalhava, armazenava alimentos para os dias mais difíceis enquanto a outra nada fazia, só cantava, voava, via o mundo de cima, e ainda criticava o excesso de trabalho da formiga, chamando-a de burra. Mas a vida passa para todos e, como dizem, o mundo dá voltas.

Durante a infância e juventude, meus filhos sempre foram privados de qualquer tipo de excesso e, em muitas vezes, até em excesso. Sempre entendi que, se tivessem pouco, uma vida dentro dos padrões normais, sempre estariam bem. Se, no futuro, por motivos diversos, pudessem possuir mais, gastar mais, ótimo, certamente sentiriam prazeres com isso.

Se não pudessem, não sentiriam falta de nenhum supérfluo, pois já estariam acostumados com o 'feijão com arroz' do dia-dia, e o caviar não seria sequer sonhado, seria insignificante em suas prioridades.

Muitas pessoas não pensam dessa maneira e dão a seus filhos tudo o que podem, e que normalmente é mais do que podem, acostumando-os a um padrão der vida que dificilmente conseguirão manter no futuro.

Os exemplos estão aí aos milhares, assim como os resultados. Poucos são como Antonio Ermírio de Moraes, que, numa entrevista a que assisti, foi questionado sobre como era o relacionamento do homem mais rico do país com seus filhos. Perguntado se não se importava de levar uma vida tão simples diante de seu patrimônio, sem motoristas particulares, usando ternos adquiridos em magazines e se não era cobrado por estar educando os filhos da mesma forma, ele deu uma resposta tão simples quanto seu estilo de vida: "Digo a meus filhos que podem se divertir à vontade, desde que saiam de casa para trabalhar no mesmo horário que eu".

Como a matemática, certas coisas não são e nunca serão alteradas, como a relação ganho e despesa. Toda boa dona de casa sabe o que pode e o que não pode adquirir no supermercado para que os mantimentos sejam suficientes para o consumo da família até o próximo pagamento.

Pessoas estão consumindo cada vez mais e permitindo que seus filhos possuam tudo o que solicitam. Elas passam a ser crianças sem limites, que gritam, choram e até agridem seus pais sempre que contrariadas.

As crianças criadas dessa forma certamente levarão sua vida adulta da mesma maneira e provavelmente, salvo algumas exceções de gênios, não conseguirão fechar a conta do final do mês, passarão por 'necessidades', mesmo que psicológicas, e a culpa, sem dúvida, é dos pais que as criaram dessa forma.

Quando se realiza uma atividade comercial ou industrial, podem ocorrer diversas possibilidades que proporcionem danos financeiros e até a destruição econômica daquela atividade, e isso pode ocorrer a todos, que normalmente recomeçam, possuem novas chances e agora já não cometerão o mesmo erro.

Não é o que ocorre com aquele que leva a vida em nível superior ao que pode. Para esses, o resultado certamente será triste, assim como sempre foi em toda a história da humanidade. O mundo costuma ser cruel com aqueles que perderam o que já tiveram, até por passarem a ser rotulados como incompetentes.

Como na fábula da cigarra e da formiga, as pessoas se esquecem de seu passado, de como gastaram mais do que podiam e agora, quando já não podem suprir sequer o necessário, passam a criticar os que possuem, sem se importar com o que eles passaram para se manter ou aumentar seus bens.

* Produtor rural, articulista e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.
Fonte: Congressoemfoco