sexta-feira, abril 08, 2011

Aécio Neves ficou 6 horas e 35 minutos na tribuna. Retumbou: “Sou o líder da oposição e candidato à sucessão”. Não disse se será em 2014 ou 2918. Quando acaba seu mandato no Senado e completa 58 anos.

Helio Fernandes

Não posso ficar em silêncio diante do importante e competente pronunciamento do ex-governador de Minas. Mesmo correndo o risco de ser acusado de favorecê-lo, glorificá-lo, prestigiá-lo. 2014 e 2018 ficam tão distantes, que mesmo que pretendesse apoiar Aécio, daqui a pouco ninguém se lembraria.

Visibilíssimo: Aécio Neves estreou no Senado, se colocando de tal maneira como líder da oposição e tão candidatíssimo a uma próxima sucessão, que só restou a José Serra, presente o tempo inteiro, sem se afastar um minuto, apenas o espaço de duas afirmações inconsequentes.

1 – “É estranho assistir a pessoas falarem sobre você, presente, e não poder responder”. 2 – “2014 está muito longe”. Nas duas oportunidades “ria amarelo”, sabia sem nenhuma dúvida, sem poder negar, que o triunfo da apresentação de Aécio era irrefutável.

Aécio programou tudo nos mínimos detalhes, e as coisas não saíram do planejado. Ele fugiu do discurso rotineiro, sozinho na tribuna, os outros senadores entrando e saindo, exclamando ou até dizendo baixinho: “Puxa, ainda não acabou? Quanto tempo ainda temos que esperar?”

Mobilizou o Senado inteiro, não apenas Serra que ficou ouvindo. Aécio deliberadamente convocou o Senado não só para ouvi-lo, para debater com ele, dividiu os holofotes, ninguém podia recusar. Numa quarta-feira reservada para sessão deliberativa, “sem nada para deliberar”, Aécio conseguiu que o tempo todo fosse destinado para atender à sua convocação de debater, contradizê-lo, até desmenti-lo, como fez o primeiro aparteante.

Esse foi Lindberg Farias, o mais duro, o mais demorado, o mais incisivo, pois desmentia “os números do seu governo, que são rigorosamente falsos”. Interrompia não o aparte mas o discurso paralelo, para dizer: “Senador, nada pessoal, sou admirador de Vossa Excelência, é apenas política”.

Em mais de meia, repetiu isso 9 vezes. Era exatamente o que Aécio queria. Aí, respondia tranquila e cordialmente, colocava os programas, levava alguns minutos nos elogios abertos ao aparteante, sem nem de leve responder crítica com crítica. Conseguiu o que pretendia.: criar um clima de cordialidade que dominou a tarde-noite inteira.

Isso animou a todos, principalmente os representantes da “base de apoio”. Compreendendo que poderiam criticar o governador-senador sem serem atingidos por ele, formaram filas para responder. E se satisfizeram com a reação, ao mesmo tempo satisfaziam o senador.

Como os representantes do PSDB eram minoria, e os do DEM, que ainda não se definiram, possíveis partidários de Aécio mas não identificados, o debate ficou restrito à “base de apoio”, exatamente o pretendido, projetado e planejado por Aécio aconteceu rigorosamente.

Das 6 horas e 35 minutos em que Aécio ficou na tribuna, o discurso inicial não tinha nem 1 hora. Mas os apartes foram quase sempre muito restritivos, e as respostas conceitualmente amenas, o que resultou: esse tempo integral ficou sendo todo de Aecio. E na verdade foi assim o que aconteceu.

E é preciso ressaltar: hoje o tempo é todo limitado, ninguém pode falar mais que determinado tempo, mínimo, que impede os grandes discursos do passado. Mesmo porque os oradores de antigamente valorizavam o tempo, tinham substância até mesmo para garantir audiência.

No Império, o Visconde do Rio Branco falou 8 horas seguidas, para defender o filho, o Barão do Rio Branco. Este, representante (ainda não existia embaixador) na Argentina, foi acusado por outro deputado de “negligência”.

Convenceu inteiramente, ninguém se retirou. Registre-se como curiosidade. O pai foi apenas Visconde, o filho, Barão, superior. O pai é nome de uma “ruazinha” minúscula, perto da Praça Tiradentes. O filho identifica a mais importante avenida, que se chamou inicialmente, desde que foi aberta em 1905, de Avenida Central.

Aécio conseguiu fixar sua posição de LÍDER DA OPOSIÇÃO (e garantiu que ela existirá) e candidato dessa mesma oposição. Não fixou data. Foi o derrotadíssimo José Serra que, contraditoriamente, socorreu o próprio Aécio: “2014 está muito longe”. O ex-governador mineiro deixou bem claro que é candidato. Mas com pouco mais de 50 anos, não precisa andar de calendário na mão.

***

PS – Notem, principalmente os que já se preparam para discordar e dizer, “Aécio não merece esses elogios”, que não elogiei o discurso. Nem sequer analisei o conteúdo, portanto não elogiei nada.

PS2 – Me fixei no triunfo do planejamento, da confirmação da presença do Senado inteiro, que era o que ele pretendia. Que consagração maior para um estréia do que ser “criticado” duramente por Romero Jucá?

PS3 – Lide do presidente FHC, de Lula e de Dona Dilma, Romero Jucá precisava mostrar ao Planalto-Alvorada, “serei líder não até 2014, e sim até 2018”. Pelo menos, quando acaba seu último mandato.

PS4 – Quase às 9 horas da noite, Aécio deixava a tribuna. Mas não saia simplesmente. Convocava todo o Senado “para um debate na próxima quarta-feira, quando estaremos fixando os caminhos e os compromissos para o futuro do país”.

PS5 – Que estreia. Nos próximos tempos, receberá os dividendos. E Aécio teve o cuidado de não dizer nada, mas ter o Senado inteiro para concordar com ele.

Helio Fernandes |Tribuna da Imprensa