domingo, março 27, 2011

A política brasileira vive um momento de confusão mental, tipo Samba do Crioulo Doido

Carlos Newton

Na festa de lançamento da criação do novo PSD (Partido Social Democrático), em Salvador, a maior surpresa foi a intensa participação do deputado federal Protógenes Queiroz, (PCdoB-SP), que foi saudado pelo prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo, e integrou a mesa principal no ato.

Protógenes ganhou notoriedade por sua atuação como delegado da Polícia Federal na Operação Satiagraha, em 2008. Por determinação do delegado, o banqueiro Daniel Dantas chegou a ser preso duas vezes, sob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro.

Mas Protógenes acabou afastado das investigações, por vazamento de informações e outras irregularidades no exercício da função. Candidatou-se a deputado federal pelo PCdoB paulista e acabou eleito com a sobra de votos de Tiririca (PR-SP), da mesma coligação, o que lhe garantiu alcançar o quociente eleitoral.

Mas o que é um parlamentar declaradamente comunista faz na festa organizada por um prefeito que está abandonando o DEM e seu mentor tucano José Serra para aderir ao governo e cair nos braços da presidente da República?

Apesar de não fazer parte do grupo chamado a discursar e a assinar o manifesto de criação do partido, Protógenes estava completamente à vontade. Disse que não irá se filiar na legenda no momento. Mas garantiu que irá para o PSD caso Kassab o convide para ser candidato a prefeito de São Paulo em 2012.

Como se vê, o delegado Protógenes começou muito bem na política. De início, declara-se comunista, mas logo após assumir o mandante ele se alia ao primeiro direitista que passa à sua frente, e estabelecendo uma condição, como todo político faz.

Aparentemente, Protógenes pretende ser prefeito de São Paulo, mas na verdade quer apenas aparecer e ganhar visibilidade, para se reeleger deputado mais facilmente em 2014, já que tem dúvidas de que Tiririca seja novamente candidato. Como se vê, o delegado rapidamente aprendeu a ser político. Isso é que é talento.

O mesmo acontece com Indio da Costa, o ex-deputado do DEM que foi vice na chapa de José Serra. Na campanha eleitoral, dizia horrores de Lula, de Dilma e do PT. Agora estão aderindo ao partido de Kassab, ou seja, caindo nos braços dos governantes que tanto tentou destruir. nada como um dia após o outro.

Resumindo: os partidos não valem nada. Extraindo-se as exceções de praxe, são amontoados de espertalhões, de olho dos recursos públicos. A relação oficial do Tribunal Superior Eleitoral registra a existência de 27 partidos no Brasil, funcionando e recebendo generosos recursos públicos do Fundo Partidário.

Já existem outros 30 legendas em processo de organização, das quais 9 já conseguiram se oficializar em Tribunais Regionais Eleitorais, mas ainda estão pleiteando o registro nacional. No meio dessa abundância partidária e eleitoral, estão surgindo o Partido Militar Brasileiro (PMB)e o Partido Novo (PN), que teve o estatuto publicado no “Diário Oficial da União” no dia 17 de fevereiro, e pode ser chamado também como Partido dos Empresários. Formado por um grupo de executivos desiludidos, o que se pretende é um partido “sem políticos”, que possa levar práticas da iniciativa privada para a vida pública”.

Incluindo o PSD de Kassab e Afif Domingos, passam a existir 27 partidos já registrados e outros 33 em formação, num total de 60. Aonde vamos parar, Francelino Pereira? Que país é esse? Ora, é o país onde qualquer um pode montar um partido político e usar à vontade as verbas públicas do Fundo Partidário.

Fonte: Tribuna da Imprensa