quinta-feira, março 24, 2011

Dilma rebate versão de Lula: elo político não pode ser total.

Pedro do Coutto

De forma hábil, indireta, mas clara, através de reportagem de Maria Lima e Gerson Camaroti, O Globo de 22, a presidente Dilma Rousseff rebateu a versão de Lula, de que não compareceu ao almoço oferecido a Barack Obama por não ter sido convidado diretamente por ela. O convite, em sua versão, teria sido enviado pelo Itamarati e, por tal motivo, considerando-o uma descortesia, resolvera não participar. Ele errou.

Em minha opinião, aliás em qualquer circunstância, convite feito pelo presidente ou pela presidente da República não se rejeita. Aceitá-lo, inclusive, colocando-se a questão em nível socialmente adequado, não significa concordância, nem com o autor da gentileza, tampouco com o homenageado. O ex-presidente não levou isso em conta. Fez mal. O fato de Obama ter autorizado o ataque militar ao governo Kadafi, do qual ele, Lula, talvez tivesse tomado conhecimento antecipadamente, não muda nada.

O cenário do Alvorada era muito mais diplomático do que puramente político, embora, como se sabe, esteja a política presente em todas as atitudes humanas. Inclusive porque se procurarmos tanto no Houaiss quanto no Aurélio, vamos encontrar política como sinônimo de polidez. Mas esta é outra questão.

O fato é que, agora, ao responder a Lula, seu grande eleitor, através das teclas de Maria Lima e Gerson Camaroti, Dilma revelou que o elo que a vincula a seu antecessor, de quem foi chefe da Casa Civil, não é total. Tampouco poderia ser. Em matéria de poder, não existem dois governos iguais. Como igualmente não existem duas pessoas iguais. A atual presidente aproveitou o episódio para acentuar a mínima distância necessária entre dois estilos desiguais. Foram iguais, pode-se argumentar. Mas isso quando ela, como lance de salvação política, foi convocada por Lula para substituir José Dirceu na profunda crise do mensalão de 2005.

Tão profunda que terminou, não só com a demissão do principal auxiliar do presidente, mas também com a cassação de seu mandato de deputado federal. Dilma Rousseff equilibrou o governo no Planalto. Equilibrou tanto que culminou tornando-se a candidata do PT à presidência por iniciativa do próprio Lula da Silva. Dilma, diz a matéria de O Globo, não gostou da ausência do ex-presidente no almoço. Menos ainda apreciou a desculpa que ele fez divulgar nos jornais. Tanto assim que fez questão de negar sua procedência. Forma elegante de substituir na frase o verbo desmentir. Rousseff colocou algodão entre os cristais. Não quebraram.

Nem poderiam. Seria algo que nada interessa a ela, nem a Lula, muito menos ao PT. Lula, sem dúvida, é o grande eleitor do país e, assim, terá participação decisiva nas eleições municipais de 2012, ano que vem, especialmente na disputa pelas prefeituras do Rio, São Paulo e Belo Horizonte. São Paulo e Rio por razões óbvias. Face à sua importância eleitoral, já com vistas a formação de bases sólidas para as eleições presidenciais de 2014. A prefeitura de Belo Horizonte para impedir que o senador Aécio neves, principal figura hije do que restou da aposição, conquiste mais uma vitória na estrada que leva ao Palácio do Planalto.

Não se sabe, hoje, se a candidatura do PT será a reeleição de Dilma ou o retorno de Lula, mas no plano oposto sente-se que Aécio está muito mais forte do que José Serra. Quanto a este porque o destino lhe bateu à porta duas vezes e em nenhuma das duas conseguiu entrar.
Não demonstrando vinculação total com Lula, mas mantendo-a parcialmente, Dilma Rousseff, ao mesmo tempo, equilibra-se e equilibra o PT no poder. Mas nem tanto o ministro Fernando Haddad na pasta da Educação. Uma questão de tempo.

Fonte: Tribuna da Imprensa